3 de março de 2008

Registos

Perdi a conta aos dias, às horas, a esse tempo que se conta. Perdi a noção do espaço, das ruas e dos lagos que se vêem e tocam e cheiram de forma tal que se não duvida da imortalidade do cantinho que ocupam na ordem das coisas. De todos perdi o rasto. Vejo sim rostos, risos, conversas, caminhares em passeios de cimento, degustações à sombra de um Sol que não queima. Mas de nenhum conheço a essência. De todos adivinho a natureza e delineio os contornos, porém qualquer deles se distancia de mim como o Universo se expande, para já, mais do que contrai. E, para já também, nesta relatividade que nunca se inventou apenas descobriu, prefiro que se não acerquem mais do que o necessário. Não lhes conheço a essência e o perfume que emanam não me deita por terra os sentidos estonteados; antes me nauseia sem motivo aparente, ou talvez bem mais enraizado do que se descubra à primeira incursão da enxada. Corpos então se movem neste redor, entre o vento que sopra e a chuva que cai, e o calor da carne queima-me o pensamento de passagem, de raspão, qual bala tocada pela sorte ou pelo azar majestral. Confunde-me as ideias e afasta quem sou para que a estrada se abra à sua passagem; não quero que se detenham mas que prossigam. Seja lá qual for o percurso traçado, seja o tempo que for e que previram perder até chegar lá. Onde? Ao lugar escuro ou radioso onde se deitam e repousam as almas que não quero conhecer. No fundo, porque perdi a conta ao tempo e a noção do espaço, jamais sendo pela mão daqueles conversadores, caminhantes ou gulosos, que quero encontrar novamente motivos para trazer essências aprazíveis à luz do meu dia que não amanhece.
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4 comentários:

Oliver Pickwick disse...

Na prática, o eterno conflito do "quem somos, de onde viemos, para onde vamos, porque somos?
Mas sou daqueles que acreditam que o dia há de amanhecer, e tudo será luz.
Beijos!

Anónimo disse...

Viver é caminhar pela avenida onde rostos se cruzam, onde mentes e pensamentos se misturam em olhares, onde corpos se tocam de leve, onde sentimos tantas vezes um vazio cheio de nada...
Um dia a luz do amanhecer vai aparecer, e com ela as cores do que até ontem parecia cinzento irão tomar forma e os sentires serão a razão de voltarmos a caminhar, nessa infinita estrada que nos irá conduzir ao rumo certo...
Continuarmos crentes que o que nos faz mover e acreditar chama-se simplesmente...
Eu vou a caminho, espera por mim...

Alma Nova ® disse...

No rasto perdido contam-se os passos em sentido contrário, procuram-se os cantos perdidos...até que um sol quente e arrebatadora ilumina as madrugadas e as transforma num fabuloso nascer do sol. Os rostos nascem em sorrisos rasgados e no peito sente-se...

Shelyak disse...

São tantas as vezes que preferimos ficar sós com o nosso Eu... e que é tanto melhor quando mais rico for...
Beijinho