29 de dezembro de 2006

Life or some sort of something

Pode ser só uma frase?
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Leave me alone for a lifetime minute.
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Gangsta's Paradise, Coolio

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I guess they can't; I guess they won't
I guess they front; that's why I know my life is outta luck, fool!

25 de dezembro de 2006

Shelter

Sons inconfundíveis que já me acordaram, ajudaram a adormecer e, não raramente, a sentir ou a perder as emoções num lugar e tempo irreais.
Uma voz. Tantas músicas e histórias contadas em letras para ouvir e deixar entrar, devagarinho. E, talvez, a vontade de ouvir cada uma sempre com novidade. Como agora.
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Walk On, U2

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And I know it aches, how your heart it breaks
You can only take so much
Walk on, walk on

23 de dezembro de 2006

Still meaningless

Não é mais fácil.

Não é mais alegre o despertar cada manhã. Sincera, honesta e verdadeiramente, não é e não há a mínima vontade de explicar, falar ou sequer gostar que a mágoa seja tão-pouco aceite, quanto mais percebida.

Cada despertar é agora um instante de transição, vazio do sentimento sem nome que pensava inseparável. Cada anoitecer e amanhecer transformam o que [e como] é visto, mas não o que está escondido sob um sorriso. Nesse lugar onde ninguém chega, repousa para sempre o inexplicável.

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Hotel California live, The Eagles

20 de dezembro de 2006

Meaningless

Triste. Profundamente triste e sem palavras que expliquem sequer a mais ínfima parte da desilusão, do desmoronar do sonho,ambição, objectivo, alento, sei lá já bem o que era. Também não as vou procurar. Não vale a pena. Creio, que tal como o sono que não existe regressará com a exaustão, igualmente as palavras virão por necessidade; contudo, para sempre diferentes e jamais descrevendo este hoje que não acaba.

Tão-somente triste. Impotente, incapaz e certa de que jamais desaparecerá o peso enorme que hoje deixa a garganta apertada, mesmo quando parecer que tudo já não passa de uma memória, um dia mau. Nunca será apenas isso.

Digam o que disserem, façam o que fizerem, cantem como cantarem. Viaje este corpo ou fique esquecido no sótão escuro, esboce um sorriso ou pareça já não olhar para trás.

É assim.

Quando se perde e não se pode recuperar. Quando se falha e se vê que se é, apenas, um número entre muitos.

E o que fica... é a tristeza.

Nobody Knows, Pink

11 de dezembro de 2006

À vista

A gente tem sabor.
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A gente tem um gosto especial, único, diferente. E em toda a gente há o paladar para o descobrir, o desejo que o aguça e a arte para aperfeiçoar esse sentido [não um sexto; apenas um dos cinco tradicionais, porém, tristemente, tantas vezes esquecido do sentir do gosto da gente].
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Qualquer gente, de qualquer cor e passado, tem um sabor que a distingue na multidão naquele momento de recolhimento em que o dá a conhecer, como que por magia.
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Não é um sabor doce nem amargo. Não lembra chocolate nem especiarias de outras paragens. Não tem data de validade nem se esgota num piscar de olhos. No entanto, está lá. À espera. Pacientemente aguardando ser apreciado, recordado, sentido por entre o perfume [verdadeiro acrescento superficial deveras aliciante...] e o olhar que dispersa a atenção.
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Eu lembro o sabor da gente. Como o seu perfume. E o seu olhar.
Benção.
Pesadelo.

6 de dezembro de 2006

Siner

Na confusão, na dúvida, na incerteza, no sorriso desenterrado e mostrado para não os fazer sofrer, veio à tona a memória de uma noite no cinema.

Um filme. Imagens vivas gravadas numa película. Gente diferente. Corpos humanos, híbridos intrigantes. Sin City.

Até que não me importava de viver com e naquelas cores, num lugar assim deserto e olhado de lado pelos puritanos. De viver aquelas histórias cruzadas; um dia em páginas aos quadradinhos e, de súbito, num grande écran.

Seria como que uma viagem [comigo?] sem motivo mas com destino. Uma espécie de mergulho no escuro, de afogamento e descoberta de novas ruas, diferentes bancos de jardim, recônditas matas chuvosas, becos sem luz, mansões desabitadas [geladas pelo passar do tempo, pontualmente aquecidas por corpos perdidos na viagem e famintos de... tudo] e seres... pecadores, em princípio.




Talvez em sonhos.

4 de dezembro de 2006

Sem caneta

Não me digas nada, não olhes nos meus olhos, não me dirijas qualquer palavra. Não quero um boa tarde ou boa noite. Tão-pouco quero que perguntes o que se passa, se acordei do lado errado da cama, se queimei as torradas ou derramei o leite ao pequeno-almoço. Não quero ouvir qualquer som. Espero ansiosamente que os ruídos se calem, que tudo se encha de silêncio e nada me acorde.

Quero apagar as folhas e rasgar todas as frases que se articularam no meu pensamento, onde morreram antes de pisar a tinta da caneta. Porque não valia a pena que continuassem a sonhar. Quero queimar as linhas que nascem nestes instantes em que a chuva bate na portada, com força. Quero que as não volte a ver o meu olhar, porquanto lhe recordam as irmãs há tão pouco abafadas num mundo que ninguém vê.

Quero…
Não quero já nada. Mal do escritor? Devaneio do artista? Seja.
Seja uma noite longa esta que não acaba, seja um dia quente ou uma madrugada orvalhada.

Seja o que for, não quero saber. Este medo escuro não tem rosto e não tem explicação. Não tem o sentido que podia ter, nem o que se pensa conhecer quando se admiram os seus contornos do lado de lá da vitrina. Estes medo escuro e desejo egoísta, utópico, etéreo, habitam um corpo sem morada. E não tarda vão escolher outro sótão abandonado. Um diferente daquele cujos recantos não me assustam nem entristecem. Afinal, adormeci junto das suas teias ao longo do tempo.

Não me digas nada. Quero nada e uma almofada. Não para dormir. Somente para deitar a cabeça. Quiçá abafar um sussurro em língua nenhuma.
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E assim se foi.

3 de dezembro de 2006

Luzinhas



Acabou a tarde e o dia que vejo acabado deixou, sem querer, sem até fazer muito sentido ou tão-pouco agitar águas de pensamento, um amargo de boca.

Não vou dizer que não, que não quero a gargantilha brilhante, os cheques, os embrulhos coloridos de todos e tamanhos e feitios, as imagens exclusivas e dignas de antiquário com que construo o presépio, o pinheiro que chega ao tecto e ilumina a sala no silêncio de uma casa que acorda devagar. Tudo isso é já parte da carne, um pedaço da pessoa, de uma vida nascida e erguida na partilha ou na dualidade do espírito pagão de cada Dezembro e do significado mais puro do Natal.

Não vou dizer que não às ruas iluminadas, à azáfama de quem tudo perde, num instante, só para satisfazer um capricho, ao frio que rasga sobretudos e queima muitas peles sem abrigo na cidade.

Como poderia um humano negar?

Talvez nem sequer queira respostas. Nem sons que se assemelhem a sussurros nas árvores do jardim.
Talvez queira ser egoísta e ter apenas um único “recuerdo”. Onde estão, afinal, os Reis Magos? Baltazar? Belchior?

28 de novembro de 2006

No vidro


Para mim não há mistério, dificuldade conceptual ou dissertação pseudo-filosófica alguma. Meio cheio? Meio vazio? Cada qual que veja o copo como quiser, ou antes, como tiver aprendido a ver ao longo do tempo [sim, porque isto de ver não é assim tão linear como possa parecer à primeira vista… era bom que só os olhos bastassem…]. Na realidade, o que tenho por diante, nesta mesa de esplanada de Inverno, é um copo que alguém encheu até metade da sua capacidade ou esvaziou até ao mesmo ponto.

Chamas-me pragmática, directa, rápida de decisão. Serei isso tudo e, quiçá, muito mais. Ou serei até nada do que te passa agora por essa cabeça confundida. Porém, crê-me quando te questiono, retoricamente, se algum dia chegaste perto da resposta; qual surgiu primeiro, o ovo ou a galinha? E, crê-me também, se ousares ir contra os paradigmas, que nem todas as buscas incessantes de respostas são, só por si e pelo simples facto de te levarem a pensar como jamais imaginaste, jornadas de superior valor intelectual, emocional, sentimental, ou lá o que queiras acrescentar a esta adjectivação que me cansa. Há demandas que nos envolvem e que até somos capazes de levar até ao fim, mesmo sem chegar a sítio algum. E há aquelas que não vale a pena empreender [e não falo de derrotismos por premonição].

Não sejas uma personagem transparente; presa às migalhas que te atiram ao jantar, enquanto te escondes debaixo da mesa.

27 de novembro de 2006

Depois



Depois da morte do artista, ficam por cá os textos, as pinturas, a argamassa moldada que um dia imaginou, sentiu e permitiu que conhecêssemos. Depois da morte do artista, as frases ganham novo sentido, os borrões de tinta são claras declarações de pensamento e o ferro retorcido uma dança harmoniosa suspensa no ar.

Pois, depois da morte do artista, quando não mais poderá seduzir ou espantar com os seus arrogantes, incómodos, tristes e por vezes banais, sonhos transpostos para a realidade.

E, às vezes, imagino como seria se alguém lesse no futuro [porque de borrões nada percebo (presente triste, este) e de trolha pouco ou nada tenho (agora)] o que escrevi num qualquer dia então longínquo e totalmente desconhecido para a singular personagem que tivesse tal ousadia. Como deveria ecoar ruidosamente na sua cabeça! Como deveria soar-lhe estranho toda a palavra e texto em que deixasse os olhos pousar. Certamente faria caretas hilariantes [não nego que gostaria de as apreciar, lá onde quer que estivesse]. E, certamente também, veria de outro modo o que eu agora vejo [acontecimento recorrente mesmo agora, já que falo nisso] e pensaria para consigo onde nasceria tamanha turbulência e peso [mental]. Afinal, como poderia não haver relatos de passarinhos chilreando, arco-íris numa manhã de piquenique, fins de tarde quentes à beira mar? Meu caro, só me ocorre dizer se poderei dar uma resposta satisfatória enquanto ainda estou no presente que duvido vir a ser futuro lido? … Bem, por que não? Sim, é verdade, por que não deixar os pontos nos is desde já e poupar trabalho a quem um dia, ocasional e tristemente, perdesse tempo com estas palavras?

Simples: Quem rabisca folhas, pintalga a bata de todas as cores ou fere as mãos no metal, não quer justificar o que faz ou escrever prefácios às suas divagações instantâneas. Quer apenas qualquer coisa sem querer ser diferente ou especial ou notável ou importante ou recordado. Quer somente um momento seu.

26 de novembro de 2006

De costas para o quarto

Devia estar noutra realidade. Sim, devia.
Devia.
Mas, cada vez mais, havia dias assim; estranhos, diferentes, vazios de uma qualquer coisa inominada, sem [o tido como] eterno horizonte por diante.

Pegava então naquela grande e quente camisola de Inverno, pontuada ainda pelo perfume de outros dia e tantas vezes aquecida pela lenha seca, emanando aromas de uma mata agora morta.

Sentava-se assim, de pernas cruzadas diante da grande porta de vidro, tendo por companhia aqueles castiçais comprados por acaso, de passagem, numa rua movimentada, distante, algures num lugar diferente, um pacote de bolachas que acabava por nem sequer abrir e um copo de uma bebida sem cor e sem sabor que jamais deixaria o vidro esguio.


E ali ficava.
Devia estar noutra realidade; passar aqueles incontáveis minutos de outra forma. Sim, devia.
Mas, cada vez mais, havia dias assim; em que apenas apertava os joelhos contra o peito e olhava lá p’ra fora.

23 de novembro de 2006

Perdidos e achados

Será que ainda anda por aí?
Procurei mas não encontro. Levantei os tapetes poeirentos, revolvi a terra dos vasos secos, sacudi todos os panos que servem de cortinas improvisadas às janelas empenadas. Olhei, até, bem lá no fundo, sob as tábuas bichentas do chão. E nada. Nem a mais pequena pista.
Desci à cave esquecida, na vã esperança de ver com nitidez na escuridão bafienta.
O sótão? Revistado com a lupa do detective dedicado. Mas outra e outra vez, nada.




Perdeu-se.

To sleep or not...

Desilusão.
Apenas e só, desilusão.
Daquelas que tiram o sono sem ansiedade, sem dor especial, sem nada de nada.

As palavras perderam-se, caminhando errantes por ruas escuras e firias que adivinho lá fora, num lugar desconhecido que existe, algures. Recusaram ser corpo do pensamento, deixando-o vazio de tudo, inexpressivo. Nenhuma tem já razão de existir para além da recordação de que um dia foram mais do que uma lembrança.

As ideias perderam o brilho da novidade e nada mais são do que vestígios esbatidos de "Eurekas!" sem sentido, varridas pelas lágrimas que caem do céu, das nuvens que ninguém vê na escuridão mas que todos acreditam pairar lá no alto.






E ficou apenas e só, desilusão.
Daquelas que tiram o sono sem ansiedade, sem dor especial, sem nada de nada ou qualquer coisa menor.

Resta a ausência em si e por si. Em redor, somente um arrepio sem emoção. Uma réstia de imaginação sem futuro e de presente ausente.
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Porquê?
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Simples: desilusão.
Apenas e só, desilusão.
Daquelas que tiram o sono sem ansiedade, sem dor especial, sem nada de nada e com tudo para deixar pesadas as pálpebras esgotadas.

21 de novembro de 2006

Fragmentos

Já há tanto tempo ali e o cérebro ainda prega partidas. Por vezes, esquece o presente e usa as ligações antigas, aquelas que nasceram num outro lugar e por mão de outra gente. Aqui, os carros circulam ao contrário. Cuidado.

Ao som de músicas de sempre e de tantas que nada perdia em ouvir pela primeira vez, esperava, sem [querer ter] pressa, uma oportunidade para atravessar a avenida. Era apenas uma estrangeira num lugar que vivia da diferença de cores, gostos, feitios, estilos, esperanças, trabalhos e desejos. Um alguém nascido noutro sítio qualquer, que percorria agora as ruas movimentadas e ruidosas lado a lado com novos e velhos; ali crescidos ou por ali perdidos e achados por algum motivo. Ou até sem ele. Apenas, porque sim.

Perto do semáforo, uma indicação. "Aeroporto" [na sua língua ainda não esquecida], não raras vezes, senão mesmo sempre, despertando uma recordação. A lembrança do dia enovoado e fresco da partida. Os cuidados no check-in para evitar aborrecimentos, as caras que não quis ver nesse dia por não saber o que lhes dizer [quer falasse, quer apenas as olhasse], a perda que não deixou de corroer cada pedacinho de si ao levantar voo. Uma recordação, uma lembrança.

Ah! Finalmente! Tinha perdido já duas oportunidades para chegar ao outro lado da rua.

Ia em direcção a casa. Umas horas na "baixa" tinham rendido uns quantos livros para entreter a cabeça imparável, escolhidos [será? ou teriam sido eles a chamar pelo seu nome na montra, na estante, na mão de um leitor entusiasmado?] ao sabor do aroma das milhentas páginas das livrarias. Era preciso agora lê-los, disfrutá-los, imaginá-los de todas as formas, sentir o que não dizem.

E era o que ia fazer, nas horas de fuga naquela casa grande [não importa se assombrada ou entendida como vazia de mais gente] que fascinara todos os seus sentidos ao chegar ao seu pé pela primeira vez, como continuava, ainda, todos os dias, ao acender a lareira do quarto, deitar-se de bruços no tapete felpudo e olhar o fogo crepitante.
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Simplesmente isto.

19 de novembro de 2006

Crescendo

Acordar.
Passar o dia.
Sem sobressaltos, sem novidades.
Sem gente diferente, sem gente conhecida.

Deixar crescer uma espécie de conforto.
Uma espécie de nada, que toma conta das margens da incerteza.


Now we are free, Lisa Gerrard

17 de novembro de 2006

Pós de aroma

Como uma tatuagem de Hollywood, gravada pela minha pele naquele tecido macio, onde deixei tombar a cabeça pesada, mas vazia de muito.

Uma, talvez, marca com tempo para ser tocada e momento para desaparecer, devagarinho, sem pressa, ao chegar da madrugada, ao romper do nevoeiro da manhã. Uma quase gravura, sem relevo, sem marca de cinzel. Uma espécie de pintura de mil e uma cores, cada qual contando uma história [a sua história, sem saltar passagens, sem esquecer os recortes dos sorrisos nem os campos de lágrimas] de brilho e saudade. Um singular acorde serpenteante, flutuando na seda e levantando voo, rasando os meus ouvidos e deslizando até à foz do meu pensamento adormecido.

Como essa tatuagem [efémera e evanescente].
Foi o teu perfume.
Enquanto adormecia.
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Almost Unreal, Roxette

14 de novembro de 2006

Falando com pedras sagradas

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Pois, claro.
Não é que queira afastar uma crença imposta [porque não o foi, nem é] ou sequer pretenda mudar de credo [não faria sentido, porquanto visceralmente parte de mim]. É apenas um desabafo sem sentido e sem sentimento duradouro. Diante de quem? De mim e de ninguém mais. Apenas, aqui, eu e pedras seculares gastas pelo Tempo, pelas mãos que as poliram, pela chuva que as domou, pelo frio que as rachou, pelos lamentos intemporais que acolheram sem quebrar o silêncio. Também aos meus ouvidos nada dizem e aos olhos apenas cegam quando o sol chega ao meio-dia. Nada mais.




Mas ouvem.

Escutam quando lhes digo, sem querer acordo nem crítica, num instante de incerteza [parece-me que] humana, que, sendo tantos, certamente não poderemos ser agraciados sem fim. Não, não tenho [ou não devia ter] motivo real para choro [mimado]. Tenho antes fraquezas e desilusões, como tu e como o desconhecido que me olha, espantado, do outro lado do canteiro [figurinha estranha a que devo estar a fazer...] . Momentos de egoísmo, em que o desejo de ser um pouco mais do que os demais devotos, chega sem convite e entra sem pedir licença. Instantes de irracional vontade de ter o que todos desejam, de acreditar que talvez merecesse esse chocolate no sapatinho, de chorar sem [querer?] perceber como pode a minha existência ter sido esquecida, de cair por terra ao entender que, na verdade, não há por que ter esse anseio. Afinal, nada mais tenho ou fiz ou contribuí do que essas demais gentes. O que apelido, nesses momentos, de sacrifícios, sei [porquanto sinto e penso e reconheço...] que o não são; foram, antes como agora, opções, logo caminhos percorridos de livre vontade que não abonam a meu favor nesse choradinho. O que vejo, nesses instantes, como detalhes que diferenciam, sei também serem peças de prêt-à-porter e não criações de haute-couture.

E continuam a ouvir.

Mesmo quando lhes rogo pragas de ocasião pela ausência de palavras [… bem, palavras que ainda duvido se gostaria de sentir entrar na minha audição tantas vezes fechada].
Mesmo quando lhes sussurro o que me dizem em bom som as vozes dos humanos. “Tem fé, minha filha. Acredita que não hás-de ser esquecida.”

Pois, claro.
Uma e outra vez digo que não quero negar o que me fez crescer.

Porém, a revolta surge sem que tenha controlo. E os pensamentos brotam lado a lado com as emoções. Da coincidência… nasce a descrença [talvez mais na parte humana?]. A certeza da impossibilidade de ter um lugarzinho especial numa qualquer nuvem [ou até num beco bolorento no Inferno, tanto me faz o espaço físico e, honestamente, quem é o chefe na matilha, se veste branco ou vermelho, se ostenta um ceptro ou uma coroa de fogo.].
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Alguém se esqueceu de mim.
Ou talvez seja tudo parte de um plano qualquer que ainda não fui capaz de perceber [limitação (triste?) da raça em que nasci].
Já não há desconhecido olhando de soslaio.
Já não há Sol de meio-dia.
Quase que arriscava dizer que ouvi um burburinho vindo das pedras cinzentas.

Talvez seja apenas o bater acelerado de um coração que carrego.
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Desculpa... [se] exagerei...
Temo um sono de terror se não reconhecer a estupidez do que pensei.

12 de novembro de 2006

Conversas sem diálogo

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Estava quente naquela tarde, não te parece? Estava assim como que um Sol vindo de outro Universo, queimando a pele habituada ao tempo ameno. Sim, um Sol que entrava por todas as brechas no cimento e abria caminho por entre a mais densa folhagem... Lembras-te de cerrar os olhos, encostar a cabeça ao muro e dizer que não querias mais o aperto que tinhas no peito? Que não tinhas como afastar de ti o que te matava devagarinho, dia-a-dia e cada dia mais e mais. Lembras-te de deslizar, lentamente, até ao chão marmóreo aquecido e luzidio? Tinhas o perfil da desilusão; o olhar fixava um horizonte distante sem nada ver e seguia, por vezes, exércitos de pequenas formigas apressadas. Talvez só eu recorde. E só eu lembre a expressão gelada que via naquele corpo, ali sentado, com vida mas sem esperança.

Em pé, sem saber se querias ouvir o que te queria dizer e hesitando perante as palavras que sentia cada vez perto de te gritar, ali fiquei. Não dava um passo, não estendia uma mão. Apenas olhava a emoção perdida que já não querias resgatar. Somente olhava o mesmo horizonte vermelho. Esquecia as horas e percebia que as histórias de criança, as fábulas encantadas e todas aquelas personagens de outros tempos, nada mais eram do que isso mesmo. Pedaços de outros momentos, irreais, verdadeiros no primeiro instante e depois esfumados. Percebia pelo simples adivinhar do bater do teu coração. Dorido.

E a lágrima espessa e cristalizada pelos raios vindos lá de cima, a última que te vi derramar, falou mais alto e mais claro do que qualquer ensaio.

Não sei se te lembras dos pormenores que ficaram gravados na pedra da minha memória.
Eu? Lembro-me de ver-te olhar uma última vez a bola de fogo desaparecendo na água, sacudir o pó cravado no sal da lágrima solitária, levantar o corpo recostado e, de olhos perdidos num mundo distante, partir.



Stay on These Roads, A-Ha

9 de novembro de 2006

Desperdício





Não foi tempo meu.
Não foram horas nem minutos que tenha sentido como meus. Não chegaram a mim verdadeiramente.


Foi antes como se flutuasse sobre o chão que parecia pisar, como se as faces que via não estivessem de olhos abertos, como se o Sol, a Lua e tudo quanto se mostrava à luz do dia ou no sossego da noite, fossem uma realidade distante.

Foi tempo de correria, de sensações contraditórias, de vida sem ar.
Foi tempo contado em meses, de perder dias.
Sem saber se valeu a pena.
Ainda.

5 de novembro de 2006

Leituras

Eram de longe.
Do mar traziam
o que é do mar: doçura
e ardor nos olhos fatigados.

Eugénio de Andrade
Só.

4 de novembro de 2006

Sentido

Não, não é bairrismo descabido, desmedido, sem razão.

É, talvez, apenas uma música e letras sentidas, que ecoam no peito com um orgulho despretensioso e transformam num sorriso aquela lágrima pequenina.

É, talvez, apenas uma música sem dono e com tantas vozes quantas os corações da minha cidade.

É, talvez, apenas uma letra que, outra e outra vez, deixa novos e velhos sem outras palavras naquela sala de rostos iluminados e, que por um momento, esquece diferenças e disputas.

É, apenas, Porto Sentido.

3 de novembro de 2006

Nas horas de dormir


Lembras-te daquela tentativa de festa de pijama? Daquele serão que começou já não sei como, e que acabou em conversa sobre nada? Daqueles sorrisos sem fim e gargalhadas imparáveis vindas de cima do sofá, do tapete felpudo, das almofadas voadoras?


Há quanto tempo...

2 de novembro de 2006

Baixinho ou não

Em sobressalto. Foi mesmo assim. Acho, apesar de tudo, que sem saltar, derramar petróleo de um qualquer candeeiro ou rachar a cabeça na esquina da mesinha. Mas com um abrir de olhos rápido e decidido, isso sem dúvida.


Que raio de sonho. Que história estranha. Que sucessão de agoras e depois.

Três da madrugada e o sono pára assim; estanca para se poder voltar à realidade e ao confortável escuro daquele quarto.
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Pára e chama por ti. Numa voz rouca e sussurante, procura a tua sombra nas trevas do pesadelo e da noite inacabada.



1 de novembro de 2006

SonhoVivendo

É.
Foi mesmo.
Outra noite.

Entretanto acordei. Não chovia nem havia nuvens dignas desse nome lá em cima. Na verdade, apenas avistava um nevoeiro estranhamente quente quando perdi o olhar encostada àquela porta de vidro transparente.

Era uma manhã igual às tantas que tinha já sobre os ombros. Ouvia alguma coisa, algum ruído conhecido, alguma voz distante? É bem provável que sim, mas não há memória desse momento, igual, afinal, a tantos que pesam também sobre as costas tristemente curvadas. Curioso que ninguém as tivesse ainda visto e tentado, até, endireitar. As pessoas andam distraídas. Deve ser isso. Só pode ser isso.
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Começava outro dia do ano civil [pelo menos para quem acorda àquela hora. Para outros tantos, podia ser já o fim das horas de vigília.] e era preciso agitar as ideias, refrescar a cabeça, ligar a ignição e começar a pensar. E pensar a sério, porque durante o sono... o pensamento foge, esconde-se, brinca com a inteligência, prega partidas à razão e à fantasia também.
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Era uma manhã igual às outras e começava um novo dia como previa a ordem das coisas... Engraçado, para onde foi esse dia? É já noite outra vez.
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Está escuro lá fora. É hora de fechar os olhos e deixar a fantasia regozijar-se com as brincadeiras que [agora] preparou para a razão e para o pensamento rebelde, matreiro [qual raposa na clareira]. Afinal, é assim que nascem os sonhos [e os pesadelos, já que falo disto].

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Queres brincar também? Olhar bem lá no fundo de não sei bem onde e tentar perceber onde está escondida a inteligência, onde dança a ilusão e se perde a razão num poço de fantasia?

Não sei se é possível.
Nem eu sabia que era assim que se vivia durante o sono.

31 de outubro de 2006

11 pm

Tão farta. Simplesmente saturada.
Não sei de quê, de quem. Se de um alguém em particular, se de toda a gente, se desta noite enfeitiçada que devia estar a viver bem longe daqui [mas não, passada como sempre, rodeada pela mesma estupidez de todos os dias, teimosamente cravada nestas coordenadas]. Farta das mesmas palavras, daqueles conselhos dispensáveis ou comentários sem sentido. Tão farta que os olhos não toleram sequer varrer uma prateleira, procurar um livro, sentir o seu toque pela primeira vez numa livraria. Simplesmente saturada não sei de quê.


Não ouço uivar lá fora. Não há lobisomens. Será ainda cedo? Ou então só mesmo com lua cheia... Ainda pensei que o bruxedo os chamasse. E, porque não, às criaturas que, do imaginário, hoje bem podiam sair do esconderijo onde se abrigam de quem as teme e treme só de as pensar vivas [ou perto disso]. Não ouço nada. Que desilusão. Nada de velhas bruxas encarquilhadas, vampiros sanguinários, mortos-vivos inexpressivos e híbridos semelhantes de nome impronunciável. Nada de gritos desesperados, lágrimas de dor ou risos maléficos. Nada.


O cheiro do medo, o vibrar do vento frio, o amargo da chuva. Todos estão longe. Mas porquê? Preferem não aparecer?



Tão farta. Simplesmente saturada.
Não sei de quê, de quem. Se de um alguém em particular, se de toda a gente, se desta noite enfeitiçada sem magia alguma [sobretudo aquela negra, dita oculta e secreta. Mas que seduz...]. Farta da confusão, da lágrima cristalizada, das mesmas músicas, das mesmas letras, das frases sem sentido, das respostas inacabadas, das questões impertinentes, da impotência de ser, da cobardia de dizer, do desejo de acabar sem ter começado. Arrebatada pelos acordes da madrugada que ainda não chegou [mas cujos contornos poderia descrever ao mais ínfimo pormenor; cor, tamanho, textura, odor] e pelo dia de amanhã [invenção de alguém ansioso por terminar o agora? ou de o perpetuar] que existe apenas no calendário de parede.


E então? Pegar no carro, sair sem pensar.
Erro. Nem mesmo assim se acalma um nervosismo que o não é, mas podia ser. Nem mesmo assim se vê com clareza o que não tem cortina que o impeça. Nem mesmo assim se percebe simplesmente porquê.

Desligar[-se ou –me] então? Nem isso. Não há fio para arrancar da tomada, nem bateria para lançar à água.

Ficar apenas contigo no sofá. Sem articular o que quer que seja que se assemelhe a palavras. Sem olhar com objectivo. Fixar as íris apenas onde acontecer que se retenham. Ficar apenas ali. Desejando não sei o quê. Procurando não tenho ideia alguma do que possa [querer] ser encontrado. Ficar ali. Só isso.

Já chega. É melhor ir dormir. As palavras pesam demais. Escritas, pensadas. Não ajudam. Não dificultam. Não fazem nada. Nada. Apenas e só, nada.





Arde

Gosto das velas. De pegar num fósforo (ou num isqueiro se tais modernices estão por perto, apesar de não ser o mesmo...), ouvir aquele inconfundível deslizar da pólvora no papel áspero e, num momento, ver fazer-se luz! Incendiar cuidadosamente o pavio e deixar arder; lentamente derretendo a cera de todas as cores e feitios. Azul, vermelha, amarela,... E, porque não, sentir, erguendo-se no ar, o calor de um fogo tímido sem pretensão de rivalizar com outras fogueiras (de outros tempos, outros lugares, atiçadas por outras gentes), porquanto sabendo-se capaz de despertar sensações ímpares só por existir; por estar ali, subindo no ar perfumado do quarto, iluminando olhos sem brilho (quiça se recuando até perante outros imponentes), transfigurando-se em afrodisíaco do pensamento (do corpo também, acho eu; sim, porque não?).


Gosto das velas. Da pequena chama que se extingue quando não mais há por onde arder. Gosto de ver desaparecer a luz e nascer o fumo delicado que diz "acabou. Viveu por uns instantes, fez sonhos parecerem realidade e agora já mais não é do que pavio queimado e cera disforme sobre um castiçal."

Gosto destes "aconteceres". Gosto de os ver, com todos os sentidos que tenho.


30 de outubro de 2006

Escritos

Eram afinal só palavras. Uma série de letras e vírgulas, pontos finais e reticências.

Seria quem as mostrou aos seus olhos, que delas fazia mensagem sem igual? Ou seria antes o quando em que chegaram?
Seria o desejo de acreditar no que lhe diziam no silêncio do papel, que as coloria na noite escura, lá fora? Ou seria da falta dele que nasceu uma sensação de frio, bem lá no fundo de tudo?


Questões sem resposta surgindo em quem as não quer encontrar. Nem recordar a mágoa de há muito ter desistido.

Afinal, eram só palavras. Uma série de letras e vírgulas, pontos finais e reticências sem que se lhe encontre.


Só palavras.




Mas tudo isto me deixa pensante.
Palavras.



Só?

25 de outubro de 2006

Esvanecendo

Uma chávena fumegando. No ar vazio, ergue-se a espiral imperfeita de pequenas gotículas indistintas, desenhando no ar um calor que embacia os olhos... E aquele aroma quente... chocolate. Diria amargo. Porém, talvez de uma doçura ímpar; difícil de tocar, nem que ao de leve, pelos lábios mais desatentos.
O quadro pintado de uma realidade acontecida sobre uma mesa tosca, num dia sem número, numa manhã, ou tarde ou noite sem hora certa. A tela passada. Sem registo do que viam os olhos aquecidos pelo sabor sem igual. Sem registo da conversa que não aconteceu. Sem memória do acorde que flutuava.


Sem nada, afinal.

E com tudo para poder ser mais do que nada. Muito mais.

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Enigma, Return To Innocence

22 de outubro de 2006

New [old] story

Voltei a pegar na caneta. Apenas e só. E continuei as palavras.
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Primeiro um olho. Depois o outro. Talvez… mas acredito antes que ambos em simultâneo, numa dança instantânea de fim de noite, se abriram pausadamente.
Sobre a mesinha esguia da antecâmara, os brincos e a gargantilha repousam ainda. Ao seu lado, no chão que a tímida luz de velas perfumadas enche de reflexos, permanecem os negros sapatos de cetim; e, sobre o sofá macio, o vestido despido sem memória já a noite ia alta.

“Bom dia, menina!” Sim, é certo que a vira crescer. Que presenciara os primeiros sucessos, as brigas e as birras, que assistira sem interferir naqueles dias em que amigos que se perderam, decisões foram tomadas. Mas não deixava de a surpreender. Como sabia sempre que tinha já despertado do sono sem tempo, nem que o estivesse ela negando ao próprio corpo? Certamente jamais viria a entender se algum feitiço de conto de fadas lhe dava aquele poder imenso de saber do seu acordar e adormecer. Saberia também do seu chorar? Das lágrimas que por vezes lhe corriam no peito, brilhantes e cortantes? Invisíveis na sua natureza cristalina?

Primeiro um olho, depois o outro, orientou o olhar por entre o aroma da manhã e das velas ainda ardendo, e com ele respondeu ao cumprimento.

Sentiu o contrair de cada músculo em despertar lento e deixou-se tocar, ainda entre lençóis de seda, pela luz nascente que entrava sem pedir licença ao abrir enérgico dos pesados reposteiros. Deixou que, mais uma vez, em mais um dia, mais uma manhã, os raios frios viajando no Inverno a chamassem pelo nome. Conhecia já a sensação ímpar de os deixar dar sempre novos e diferentes reflexos ao quarto ainda adormecido, colorindo os vidros das grandes portas, brincando com todos os tons daquele seu refúgio.

Sobre a mesinha esguia da antecâmara, já não estavam os brincos e a gargantilha. Os sapatos de outras horas eram já habitantes de outra morada. E o vestido estava também agora repousando entre os seus pares, num espaçoso armário de madeira colonial e aroma inconfundível [pelas pequeninas almofadas de flores secas, pela resina outrora nascente, pelos perfumes imortais dos diferentes vestidos]. Alguém tinha já cuidado para que nada estivesse em desalinho. Ah! E para que viçosas florzinhas de mil cores ajudassem o Sol da estação fria; três finas jarras discretas, cada dia em poiso próprio, adornavam, despretensiosas, aquele refúgio agora aberto a um novo dia.

Chegando perto de uma das portas, tocando ao de leve num dos vidros, sentiu o contraste. O frio lá fora; o calor do quarto, da casa, do corpo acabado de ser levantado da maciez daquela alcofa.

De par em par abriu então as pesadas portas e avançou na espaçosa varanda de mármore mesclada, aqui e além adornada por aquelas plantas exóticas nascidas em países do Norte. Um arrepio… um calafrio vindo de fora percorreu cada contorno de si. Era o Inverno a chamar o seu nome. Tal como instantes antes o Sol ousara fazer. Fitando o horizonte, de mãos firmemente apoiadas naquele murinho gelado, olhou. Olhou as árvores do jardim estendido sobre os seus pés, as folhas caídas que alguém apanhava freneticamente, as pedrinhas dos caminhos serpenteantes, o lago que sempre a encantara, as estátuas (verdadeiras esculturas geradas noutros eras) imóveis. Vivas?

Chamando por si também estava uma outra voz conhecida. O banho, a água fumegante numa sala cuidadosamente preparada a escassos metros dali, aguardavam-na.

Não era sonho, nem pesadelo.
Era manhã nascente. Realidade.
Da noite anterior, apenas umas quantas memórias. Fragmentos de momentos que não sabem se têm direito ou dever de existir.
Memórias, fragmentos, momentos, acontecimentos afinal sem novidade. Sem novidade…

O banho esperava-a.


17 de outubro de 2006

Esta noite

A música fere agora os ouvidos. Os mais amados acordes causam uma dor tremenda, um desconforto em tom de arrepio escuro e húmido; já não caminham lado a lado com a serenidade.


E tudo quanto se anseia já não se sabe o que é. Onde está.

Quero apenas sentar-me ao teu lado no sofá, diante da lareira, envolvida por aquela luz tímida. Dizer nada ou balbuciar o cansaço que me invade. E adormecer no teu ombro.

12 de outubro de 2006

Road to nowhere

Era apenas viver ou estar neste mundo, não sei qual das expressões usar, se alguma é certa, acertada, correcta. Era, dizia, apenas andar por aí num engano. Numa ilusão do tamanho do desespero de se saber errado. Vaguear no que apelidaram de tempo para ser humano, sentindo a realidade verdadeira.

Qual?
Mas há mais do que uma verdade?
Sentido cristalinamente que só lhe faltavam os interruptores alinhados no dorso para ser uma daquelas máquinas do filme. Igual a tantas outras. Afinal, não era nem tinha nada que tornasse a sua supsota existência [sim, porque isto de existir não é assim tão linear...] especial.
Querê-lo-ia?
O quê? Ser especial? Talvez não. Mas porque não podia sê-lo mesmo sem ter pedido?
Era apenas mais um vulto na multidão. Não digo espectro [poderia ferir olhos sensíveis com tal palavra do demo!], porém talvez se sentisse um pouco assim; trespassável, impalpável, desvalorizável; e nada assustador [nem isso...].
Credo! Tanto negativismo?
Será? Já esquecemos que só há uma verdade?
Sabendo, enfim, que mais não era do que um nada entre nadas que se julgam muito, esticando-se para chegar mais alto mesmo sem saber porquê e chegando a lado nenhum apesar de caminharem muito e durante um tempo que o coelho já deixou de contar.
Sabendo, sim, agora sabendo e sem que lhe tenham bradado baixinho por entre as brechas do coração, que é um (sobre) vivente [quanto ao sobre tenho dúvidas...] que pensou e quis mais do que era suposto.
Apenas.
E só.
E sem música de fundo.


7 de outubro de 2006

Outro mundo (ou não)


Não te quero ouvir.

5 de outubro de 2006

Fere

Staind, It's Been Awhile

Porque não me apetece escrever. Nem as mais estúpidas e insignificantes palavras [se as houver...].

E, porque é uma música que nem sequer comento, explico, descrevo. Porque nem nem as mais estúpidas e insignificantes palavras seriam percebidas.

Tenho dito.

Ponto final.

4 de outubro de 2006

Um dia


Lembras-te do cheiro das castanhas?
Daquele fumo quente que saía do forno do padeiro? Que cobria o céu por cimas das nossas cabeças desde cedo? Que nos fazia desesperar ao som do crepitar dos frutos envolvidos pelo fogo?


Lembras-te de passarmos horas sentados nas pedras frias, olhando o Outono agreste que tudo tocava ao nosso redor? De olhos bem abertos, perscrutando as árvores do caminho, as folhas multicolores repousando aos seus pés, a resina que deslizava suavemente sobre o casco robusto do pinheiro?


Lembras-te do cheiro das castanhas?
De nos queimarmos com a pressa de sentir o seu toque mal saíssem da fogueira contida que as transformou, para nós?


Lembras-te de nos espreguiçarmos sob o Sol já quente de fim de manhã? Deixando-nos cair, tombar, deslizar (quantas vezes, quantas incontáveis vezes) sobre os despojos da batalha ganha pela nova estação, levantando no ar a folhagem dourada, em rodopio?


Lembras-te?
Eu não.



Mas já é quase Novembro.

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3 de outubro de 2006

Já é manhã?

Sensação terrível.
Só queria os lençóis outra vez sobre a cabeça. Abafar a respiração que quase parou, não ver o escuro nem a luz. Só queria acordar de vez, levantar a cabeça, lançar água fresca sobre os olhos. Só queria... não sei o que queria.

Ao acordar em sobressalto, com o coração frio e uma lágrima irreal de sangue que brotou de nascente dissimulada pelo sono e, acredito, pelo nevoeiro da manhã, digo apenas ter sido sensação terrível.

Não querer dormir, mas também evitar o despertar.
Não saber se olhar o relógio, se esquecer que o tempo existe e continua (tic- tac, tic-tac...).
Pegar no telefone e ligar, ou parar e pensar.

Sensação terrível.
Nem todas as palavras, de todas as línguas e dialectos, conseguirão jamais articular-se perceptivelmente e explicar; desenhar os contornos... da sensação terrível. Por isso assim baptizada. Simplesmente.

Não era tristeza, não era saudade, não era dor. Mágoa, dúvida, pesar também não.
Pesadelo?

Fez o coração disparar, bater irregularmente. Testou a resistência das artérias. Pôs no limite a respiração. Gelou cada milímetro de pele. Paralisou os mais pequenos músculos.

O que foi, afinal?

Acabou.



E, olha.
Hoje vejo um pouco de Sol para lá da vidraça.

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4 Non Blondes, What's Up (Remember?)

1 de outubro de 2006

Ao fim da tarde

Esqueci tudo sobre a mesa. A caneta, o papel, o livro. Passei a mão sobre o pequeno candeeiro e, num passe de mágica, desapareceu a única luz brilhando na negrura daquele recanto. Procurei as costas da cadeira e permiti-me deslizar, de olhos fechados e músculos tensos. Ouvi o silêncio por uns instantes. Tanto tempo ou tão poucos segundos. Não sei.

Lembro-me de sentir a chuva lá fora, o vento vibrando nas árvores em redor, as nuvens em correria desenfreada lá em cima, no escuro.
Lembro-me de carregar este corpo pelo corredor pautado por sombras, jogos de luz ao fim da tarde. Quando as luzes subtis se acendem e aquecem.

Olhei a grande sala de banho. Mármore fria e inanimada olhava-me de frente e deixava-se ser polida pelos meus passos. A grande banheira brilhava sob o luar ousado que entrava pela janela maior; a mais pequena fora mais difícil de convencer. Não qeuria deixar entrar o sol reflectido pela Lua.

Onde estavam?
É verdade, tinha-as acomodado atrás da portinha mais peculiar.

Peguei nelas. De todos os tamanhos, feitios e cores, as velas inundaram-me logo de mil aromas conhecidos. Mas então por que sempre tão novos?

Dispersei-as aqui e além.
Acendi uma a uma.

As sombras nasceram, a luz encarnou formas estranhas, as reentrâncias ganharam protagonismo.

E aqueles sais? Quem terá entrado naquele meu espaço e roubado tais preciosidades?
Precipitei-me... ali estavam eles. Colorindo frasquinhos de contornos esbatidos sob a luz ténue que percorria o espaço.


Deixei então correr a água. Um fumo quente começou a crescer. Elevou-se, tocou as paredes e desapareceu. Puf! Sem deixar rasto.

Mil reflexos despertaram-me os sentidos. Mil imagens poderia ver na água agitada, colorida pela luz e pelo calor. Fugidas, porém; rapidamente evanescendo ao surgir de uma nuvem branca perfumada, laboriosamente cobrindo a superfície.

Parei por momentos. Olhei. Ouvi de novo a chuva, o vento.

Era tempo de mergulhar o pensamento, os músculos tensos.
Sobre uma cadeira de outros tempos, daquelas relíquias que se admiram mas que gosto de ter por perto e longe da vitrine, ficaram as roupas em desalinho.



Sentir cada poro ser tocado pelo calor da água e pela subtileza do perfume.
Parar de respirar e desaparecer sob o manto albo macio. Não sei porquê, nem durante quanto tempo.
Voltar então à superfície e sentir o ar quente.

Filme? Realidade.



Recostei-me.
Acima da água calma, apenas a minha cabeça. Com ela os sentimentos, pensamentos e emoções? Sim, talvez.
Acima da espuma, apenas o [meu] olhar. Uns olhos indistintos na penumbra que perscrutavam as sombras, as chamas tremelicantes, o tecido fino das cortinas tecidas por mãos delicadas, a luz da noite que entretanto caíra e entrava agora suavemente pelas janelas.


Ao longe chegava-me um som. De mansinho, sem incomodar, fundindo-se com a luz e o perfume.
Alguém brincava com acordes de outros tempos. Imaginando um sem número de coisas. Pensando pensamentos que não posso adivinhar.

E quase adormeci.
Assim
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Chris Isaak, Wicked Game

Triste constatação

É tão triste. Sinceramente. E falam-me ainda em livros, em letras, em páginas escritas no calor de um instante inspirado ou no gelo de uma amarga memória [musa não menos valiosa, na realidade]. Para quê? Para quem? Para o meu eu? Para mim? Para que esse eu se sinta realizado? Talvez apenas para isso mesmo.

É tão triste ver gente de horizonte estreito, pensamentos limitados, desconhecimento total e completo do tanto que há para apreciar por essas ruas, vielas, casas, jardins, palcos improvisados, telas dispersas.

É tão estranho, no mínimo, admitir que tais mentes não vão além da novela das seis, das coloridas saias da Floribela ou do rímel de meninas construídas nesse evento de superior qualidade com nome de sobremesa de Verão [e que, supresa das surpresas (ou não), até entra em férias e recomeça as aulas quando o mundo real assim dita...].

Talvez por isso é que não admita, aberta e definitivamente, essa possibilidade. Quero crer que há mais além de tudo isso.

E que um livro pode fazer a diferença.

Ou um quadro.

Um lago no meio do nada.

Ou uma noite num recanto sossegado.

The Smashing Pumpkins, Ava Adore
(Porque neste pequeno mundo há quem não conheça... too bad.)


29 de setembro de 2006

Hide and seek

Goldfrapp, Strict Machine


"Acordaste outra vez com aquela vontade esquisita? Não, não me digas que sim!!! Ou diz, diz que sim!!! Vamos lá então! Já começava a sentir falta desse ímpeto!!! Agora é que vai ser!!! O quê? Não é só isso? Oh!! Diz lá... Não me deixes em pulgas deste lado da linha!!! Quê?!?! Não pode! Não acredito!! Vá lá..."

Também te escondes atrás do telefone?

Ou não será uma fuga?

28 de setembro de 2006

Ao som de velas e luz de vozes

Diana Krall, Under My Skin, live


Uma voz que há poucos instantes chamou por mim. Dizendo baixinho "vá lá, lembras-te demasiado bem do arrepio de me sentires a escassos metros. Sente-me de novo. Recorda o som que te fez e faz sonhar. Recorda as letras que te falam de dentro para fora, diluindo a tristeza, perpetuando a dor quando não há como apagá-la, aliviando o peso de uma lágrima fugidia. Vá lá. Ouve-me. Sente-me. Aqui. Agora. Como se fosse a primeira vez. Ou como se, de novo, estivesses recostada e envolta em música naquela sala repleta de emoções contraditórias e gente tão igual na sua diferença inegável."

Before college

No Doubt, Don't Speak, live


Este tempo reportou-me a outro tempo. Um tempo também cinzento e por vezes chuvoso, preenchendo o tempo de dias que hoje relembrei ao reescutar músicas há tanto longe da recordação. Um tempo tipicamente marcado pela nebulina, pelo vento soprando sem pedir licença, pelo mar revolto estivesse o corpo a viver Verão ou Inverno.

Um tempo de vivências diferentes, onde os sabores se misturavam e os odores da estrada pareciam tão diferentes dos que sentiamos em casa. Um tempo onde crescemos a um ritmo próprio, ditado por nós e pela exigência de ter que ser alguém e não baixar os olhos.

Tempo de fins de tarde, findas as aulas, o estudo, ou um qualquer passeio na cidade, passados sobre a relva cuidada da imensa propriedade do colégio. Relva verde, ora fria, ora reflectindo os últimos raios de um Sol sempre tímido.

Conversando ou dizendo nada; olhando os corvos em voo sobre a costa ou vendo nada mais do que o céu sobranceiro e imenso... imaginando que, longe, alguém amigo estaria sob o mesmo manto azul.

Tempo de sorrisos e lágrimas noutra língua. Tempo imortalizado por piadas e dissertações pseudo-importantes espantando a plateia de projectos de gente envergando chocolates [como podia ser pouco apelativa a sobremesa às vezes...].

Tempo vivido numa ilha... dormindo, despertando, respirando, estudando, sentindo, caminhando com coração luso sobre lajes britânicas.

Tempo, como todos os tempos, que um som faz re-sentir. Tempo, como todos os tempos, que reaviva sorrisos e recorda mágoas pelo ressurgir de um acorde. É este o poder desta música [um dos...].

27 de setembro de 2006

A posteriori


Where are you? I've been sitting on the moon...

Pieces of a great song...


[SItting on The Moon, A Posteriori, Enigma]

25 de setembro de 2006

Sem intuito de ser percebido


Tenho a cabeça cheia. Tão repleta de tudo e de tão pouco.
O coração bate com uma alegria estranha, um sorriso discreto com pena de uma dia se apagar, de ter que dizer adeus [embora acreditando que muito, senão mesmo tudo, do que o faz esboçar esse trejeito, para sempre permanecerá gravado a fogo e cravado a ferros]... tão apertado então que chega a doer... mesmo tendo-me ensinado a ciência que, afinal, talvez não seja sensível a esse ponto.

Obrigada.
Ouço baixinho uma voz vinda do nada.
Um timbre nascido entre pensamentos sem razão e razões sem motivo.

Porque basta esse agradecimento.
Uma gratidão e um respeito com início.

Porém jamais com fim [sentido].

24 de setembro de 2006

Chuviscos


Skunk Anansie - Secretly

Sair.
Sentir uma chuva ainda quente, lembrança remota de outras paragens, outros dias.
Abrir os ouvidos e respirar todas as cores de um Outono que podia ser igual a tantos outros. Porém tão diferente que me deixa a pensar… se haverá duas estações iguais em anos diferentes.

Sair assim.
Uns momentos.
Pensar apenas em chegar depressa ao próximo abrigo.

Entrar então.
Sacudir os pingos de chuva mais rebeldes, aconchegados no casaco e brilhando no cabelo desalinhado pelo vento matreiro. Deixar o corpo recostar-se no sofá imenso timidamente iluminado pelo antigo candeeiro de petróleo.

Acender a lareira?
Depois de dizer olá.

A quem esperava já por esta chegada.

23 de setembro de 2006

Directo e simples


"Paraste, porquê?"
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Pela mesma razão que comecei.
Porque quis.

22 de setembro de 2006

Manhã com contornos escuros

Purple Rain

Azar. Não é para agradar. Nunca foi. Nada do que digo, faço ou penso.

E hoje, nesta manhã de Sol com cheiro e sabor a Outono, penso. Penso e penso e penso e chego a nenhuma conclusão. Sem sono, sem cansaço, sem distracção física, não me concentro. Tão decidida, tão empenhada e não me concentro. Uma hora, duas, três. Tudo na mesma. Insisto, não desisto. "Há dias assim." Mas não pode haver. Não pode. Porque o tempo passa. A tensão aumenta estupidamente e sem fundamento, arrisco dizer que virei a concluir.

Quero apenas o que sempre quis.

Ser eu. Com tudo quanto isso implica.

E como custa às vezes não ser de outra maneira. Mesmo que o não queira.

21 de setembro de 2006

Ao acordar da noite sem sono


Six Pence None The Richer - Don't dream it's over
Por nenhuma razão.
Sem olhar às palavras. Sem pensar no que dizem. Sem perceber de onde vêm.

19 de setembro de 2006

Viajando na sensação

Completamente diferente e tão único que descrever o sentimento que desperta é impossível. Não sei se pela saudade que deixou, muito menos se pela atracção que exerce só por estar na memória. Não sei se pela sensação de leveza que imprimia a cada movimento que tentasse desenhar sob o envolvente Sol quente e alto, muito menos se pelo desejo de perdição que nascia do mais recôndito dos quartos que a alma encerra, sem saber que um dia o construiu, até. Não sei se pelo aroma enebriante do vento nos momentos em que a rebeldia tomava conta da vastidão dourada, muito menos se pela recordação do silêncio. Não sei, enfim, porquê. Sei então pouco ou nada mesmo, daquele tanto que percorre ainda cada cerrar de olhos e lembrar. Sei apenas do desejo de voltar. De construir novas memórias sem sentido. Outras recordações sem explicação. Outros instantes de mágica viagem no tempo.
Nem que por um momento. Por uma fracção dos minutos que vemos passar sem sentido.
Sonho?
Talvez.
Um sonho insane de viver noutro lugar, noutro tempo, noutra realidade.
De ter um poder imenso.
Ou de tão-somente ficar ali.
Sentada.
Olhando.
Respirando.
Tocando.
Adormecendo sabendo do frio.
Desepertando sob o Sol quente.
No deserto.
O meu refúgio?

Inesquecível Saara. Fotografias de outros dias que lutam para recolocar o corpo noutro lugar.

16 de setembro de 2006

Old piece of paper

As palavras que se dizem, os gestos que nascem do nada, os olhares perdidos e penetrantes, os calafrios na madrugada, um tombar de pescoço nu. Um toque fino, lento, tacteante, quente, arrepiante. De dedos seguros em mão ondulante? E de lábios macios, gentilmente percorrendo a pele que os convida, aqui e além esquecendo que sequer pertencem a este mundo e tornando-se flechas de um qualquer mundo etéreo, arrebatadoras e absorvendo toda a vida que tocam.
Um rasgar de tudo e abrir de nada. Um momento de esquecimento.
Um perfume que se funde com cada fio de cabelo, recanto de pele ruborizada, roupa desnecessária. Um aroma que deixa de ter dono. Porquanto já não é de quem o trouxe . Mas de quem o roubou.


Porque, vídeo e música, falam baixinho ao meu ouvido

Aqui,

agora,

ao (re)escrever,

ao respirar.

Coldfinger - The Beauty of You

14 de setembro de 2006

Brilho

Metallica - The Unforgiven


Não ia voltar hoje.
Não ia regressar.
Não ia "ligar" outra vez o mundo virtual que me une e me afasta de tanto e de tanto pouco.
Não.
Até que um som e alguém vieram ao meu encontro. Nas suas poucas palavras e naquele olhar que jamais poderei definir [quiça por ter tanto de mim e outro punhado de coisas tão diferentes], dá-me um abraço cá dentro. Como que dizendo sou tu e para sempre terás um pouco de mim em ti. Aquele pouco que ninguém percebe de onde vem. E como nunca esmoreceu. Mas cresce.
E porque esta música me diz muito.
Não gosto, não me agrada esta vulgaridade de desatar numa descrição desenfreada dos sons que tocam cá dentro. Porém, há momentos estranhos. Instantes em que a música pede para que digamos que entrou em nós e é parte de nós.
Assim esta fez e faz. Hoje... e até um qualquer dia. No Paraíso. Ou no Inferno.
Für dich.
Mein freund.