26 de novembro de 2006

De costas para o quarto

Devia estar noutra realidade. Sim, devia.
Devia.
Mas, cada vez mais, havia dias assim; estranhos, diferentes, vazios de uma qualquer coisa inominada, sem [o tido como] eterno horizonte por diante.

Pegava então naquela grande e quente camisola de Inverno, pontuada ainda pelo perfume de outros dia e tantas vezes aquecida pela lenha seca, emanando aromas de uma mata agora morta.

Sentava-se assim, de pernas cruzadas diante da grande porta de vidro, tendo por companhia aqueles castiçais comprados por acaso, de passagem, numa rua movimentada, distante, algures num lugar diferente, um pacote de bolachas que acabava por nem sequer abrir e um copo de uma bebida sem cor e sem sabor que jamais deixaria o vidro esguio.


E ali ficava.
Devia estar noutra realidade; passar aqueles incontáveis minutos de outra forma. Sim, devia.
Mas, cada vez mais, havia dias assim; em que apenas apertava os joelhos contra o peito e olhava lá p’ra fora.

1 comentário:

jumpman disse...

E ali ficava. Talvez sentindo que a sua vida poderia ter outro rumo. Ou simplesmente desejando uma nova realidade, só para saber como poderia ser.
Aquele "what if"

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