12 de novembro de 2006

Conversas sem diálogo

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Estava quente naquela tarde, não te parece? Estava assim como que um Sol vindo de outro Universo, queimando a pele habituada ao tempo ameno. Sim, um Sol que entrava por todas as brechas no cimento e abria caminho por entre a mais densa folhagem... Lembras-te de cerrar os olhos, encostar a cabeça ao muro e dizer que não querias mais o aperto que tinhas no peito? Que não tinhas como afastar de ti o que te matava devagarinho, dia-a-dia e cada dia mais e mais. Lembras-te de deslizar, lentamente, até ao chão marmóreo aquecido e luzidio? Tinhas o perfil da desilusão; o olhar fixava um horizonte distante sem nada ver e seguia, por vezes, exércitos de pequenas formigas apressadas. Talvez só eu recorde. E só eu lembre a expressão gelada que via naquele corpo, ali sentado, com vida mas sem esperança.

Em pé, sem saber se querias ouvir o que te queria dizer e hesitando perante as palavras que sentia cada vez perto de te gritar, ali fiquei. Não dava um passo, não estendia uma mão. Apenas olhava a emoção perdida que já não querias resgatar. Somente olhava o mesmo horizonte vermelho. Esquecia as horas e percebia que as histórias de criança, as fábulas encantadas e todas aquelas personagens de outros tempos, nada mais eram do que isso mesmo. Pedaços de outros momentos, irreais, verdadeiros no primeiro instante e depois esfumados. Percebia pelo simples adivinhar do bater do teu coração. Dorido.

E a lágrima espessa e cristalizada pelos raios vindos lá de cima, a última que te vi derramar, falou mais alto e mais claro do que qualquer ensaio.

Não sei se te lembras dos pormenores que ficaram gravados na pedra da minha memória.
Eu? Lembro-me de ver-te olhar uma última vez a bola de fogo desaparecendo na água, sacudir o pó cravado no sal da lágrima solitária, levantar o corpo recostado e, de olhos perdidos num mundo distante, partir.



Stay on These Roads, A-Ha

3 comentários:

jumpman disse...

Porque por vezes nós próprios, ou outros que nos são próximos, carregamos algo que por mais que queiramos, não conseguimos "sacudir". E viver com isso pode ser dilacerante e moldar-nos de alguma forma. E será também um sentimento estranho, para quem quer ajudar e não consegue ou não sabe como o fazer.

E essa música.. Apesar de a minha história com os A-ha, está ligada a outra música deles que porventura será a mais conhecida, esta é mais um dos exemplos de como esta banda não foi só feita daquele êxito.



E sim, o problema até nem poderia ser das mulheres.. ;)

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Jo disse...

Partir. Deixar a dor, ou talvez não. talvez se parta para ganhar outras dores, apenas diferentes. às vezes não são precisas quaisquer palavras para se dizer a verdade.

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Anónimo disse...

cada vex mais adoro ler os teus texto...
xculpa n deixar escrito nd de jeito, mas n tnh o dom da palavra...como tu!

beiju enorme