31 de outubro de 2006

Arde

Gosto das velas. De pegar num fósforo (ou num isqueiro se tais modernices estão por perto, apesar de não ser o mesmo...), ouvir aquele inconfundível deslizar da pólvora no papel áspero e, num momento, ver fazer-se luz! Incendiar cuidadosamente o pavio e deixar arder; lentamente derretendo a cera de todas as cores e feitios. Azul, vermelha, amarela,... E, porque não, sentir, erguendo-se no ar, o calor de um fogo tímido sem pretensão de rivalizar com outras fogueiras (de outros tempos, outros lugares, atiçadas por outras gentes), porquanto sabendo-se capaz de despertar sensações ímpares só por existir; por estar ali, subindo no ar perfumado do quarto, iluminando olhos sem brilho (quiça se recuando até perante outros imponentes), transfigurando-se em afrodisíaco do pensamento (do corpo também, acho eu; sim, porque não?).


Gosto das velas. Da pequena chama que se extingue quando não mais há por onde arder. Gosto de ver desaparecer a luz e nascer o fumo delicado que diz "acabou. Viveu por uns instantes, fez sonhos parecerem realidade e agora já mais não é do que pavio queimado e cera disforme sobre um castiçal."

Gosto destes "aconteceres". Gosto de os ver, com todos os sentidos que tenho.


1 comentário:

jumpman disse...

Incomparável e também diferente de pessoa para pessoa, as sensações que uma vela a arder pode despertar.

Eu gosto de observar as formas que uma vela pode tomar enquanto arde e também a forma como a chama arde, por vezes resistindo a correntes de ar. E ver essa chama moldar-se ao meio ambiente e arder com toda a sua imponência. Até finalmente se extinguir e deixar no ar um aroma inconfundível, que por alguns momentos, não nos fará esquecer que uma vela ardeu, ali, mesmo ao pé de nós.

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