Há centenas de coisas pequenas e irritantes que importunam o caminhar e incomodam mais do que uma pedra no sapato do hipersensível. Coisas que não têm nome e que apenas chamo assim, recorrendo-me da vulgaridade do substantivo e da banalidade do seu significado vazio de conteúdo, à falta de melhor, à falta de vontade de as descrever na sua inutilidade existencial. Não sendo talhada em papel nem esculpida em cera no deserto, convivo com elas e resmungo intensamente com a sua decadência diária, porém uma ou outra mais pequenina e traiçoeira, volta e meia trocam as voltas a este cérebro e quase o fazem abandonar a escrita e esse futuro que um dia pode ser; e que será de palavras em papel e histórias na lembrança. Assim aconteceu.
.
E no mesmo repente assim desapareceu e novamente surgiu. Afinal, tenho argumentos para o filme escrito mais atribulado e sentido de que há memória no meu punhado de neurónios de retenção de acontecimentos, cheiros, pancadas e caminhos.
.Tenho os argumentos imaginados e aqueles outros reais, de uma vida já una de duas independentes pessoas, que querem que se destrua em nome de valores deturpados, juízos falseados à partida, sentimentos incompreendidos e ataques subtilmente directos à mais genuína das intenções - a de perpetuar essa respiração a dois num mesmo compasso de objectivos.
.E como o que lhes digo é que tocaram no mais fundo do meu ser, abrindo a mais dolorosa das feridas, mas sem abalarem minimamente a minha convicção bem formada e certeza inabalável, resta-me concluir pela vontade de guardar todos os percalços que me colocam por diante; assim contá-los-ei um dia com o orgulho de ter dado primazia à genuinidade do sentimento. Porque o Deus que pensava ser único e transversal, mas que afinal me querem fazer crer ser de outra maneira, conversa comigo e diz-me que todos com ele falamos, logo não importa a cor da pele e o prato preferido.
.E sei que te diz o mesmo. Portanto eu continuarei a ser a branquelas e tu o terrorista, adormecendo no silêncio da nossa cumplicidade.
.
.
.
.