Há centenas de coisas pequenas e irritantes que importunam o caminhar e incomodam mais do que uma pedra no sapato do hipersensível. Coisas que não têm nome e que apenas chamo assim, recorrendo-me da vulgaridade do substantivo e da banalidade do seu significado vazio de conteúdo, à falta de melhor, à falta de vontade de as descrever na sua inutilidade existencial. Não sendo talhada em papel nem esculpida em cera no deserto, convivo com elas e resmungo intensamente com a sua decadência diária, porém uma ou outra mais pequenina e traiçoeira, volta e meia trocam as voltas a este cérebro e quase o fazem abandonar a escrita e esse futuro que um dia pode ser; e que será de palavras em papel e histórias na lembrança. Assim aconteceu.
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E no mesmo repente assim desapareceu e novamente surgiu. Afinal, tenho argumentos para o filme escrito mais atribulado e sentido de que há memória no meu punhado de neurónios de retenção de acontecimentos, cheiros, pancadas e caminhos.
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Tenho os argumentos imaginados e aqueles outros reais, de uma vida já una de duas independentes pessoas, que querem que se destrua em nome de valores deturpados, juízos falseados à partida, sentimentos incompreendidos e ataques subtilmente directos à mais genuína das intenções - a de perpetuar essa respiração a dois num mesmo compasso de objectivos.
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E como o que lhes digo é que tocaram no mais fundo do meu ser, abrindo a mais dolorosa das feridas, mas sem abalarem minimamente a minha convicção bem formada e certeza inabalável, resta-me concluir pela vontade de guardar todos os percalços que me colocam por diante; assim contá-los-ei um dia com o orgulho de ter dado primazia à genuinidade do sentimento. Porque o Deus que pensava ser único e transversal, mas que afinal me querem fazer crer ser de outra maneira, conversa comigo e diz-me que todos com ele falamos, logo não importa a cor da pele e o prato preferido.
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E sei que te diz o mesmo. Portanto eu continuarei a ser a branquelas e tu o terrorista, adormecendo no silêncio da nossa cumplicidade.
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4 comentários:
Olá Amiga,
Voltei de uma viagem de análise interior, essa que cada dia que passa mais suja voa ficando com o lixo social que lhe cai em cima...
Mas nada melhor que rever e ler quem sempre mostra uma alma atenta e um olhar de leoa pronta a defender a vida em que acredita...
Carpe Diem,
Amiga
E continuaremos a ser tudo o que somos um para o outro..
Tudo.
Olá branquelas, continuas a fascinar-me com os reus sentires...
Doce beijo
A lei da selva urbana é dura. Contudo, a sua supremacia é passageira, logo sucumbirá, pois o novo sempre vem. Por falar em neurônios, adestrei os meus, especialmente aqueles responsáveis pela irritabilidade cotidiana. Para mim que sou engenheiro-arquiteto foi fácil, imagine para você que conhece a fisiologia destes entes como ninguém. De início eles esperneiam, resmungam, mas, acabam se acostumando. Durante o adestramento, você pode experimentar métodos paliativos, como por exemplo, contar até dez antes de se irritar com um preconceito, ou, fixar na parede do seu quarto ou num canto do parabrisa do seu carro, um antigo provérbio oriental: os cães ladram, mas a caravana passa.
Você sabe que este negócio de ferida não é para sempre, sara. A sua convicção bem formada - como escreveu, na verdade é um tipo de iodo dissimulado, fatal para as feridas.
Desejo-lhe a melhor das sortes.
Um beijo!
P.S.: Sobre o seu comentário no meu blog:
Não se preocupe em deixar comentários no condado. O fato de passar por lá de vez em quando, já é o bastante para a boa gente daquele lugar. Afinal, eles têm predileção especial por branquelas com neurônios que retêm sentimentos diferenciados, de acuracidade rara, quase cifrados para a maioria das pessoas.
Continuo fã da sua escrita mais-que-intimista (e sem a chatice singular a este segmento), assim como, freguês da sua maneira de descrever ambientes e paisagens bucólicas.
P.P.S.: está linda com os cabelos ruivos. Deveria resmungar menos, pois ninguém como as branquelas combinam tão bem com esta tonalidade de cabelos. ;)
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