30 de agosto de 2006

Lá em cima, no escuro


Dentro de 60 anos [mais coisa menos coisa, não quero fazer muitas contas] podê-lo-ei ver outra vez. Imaginar cada centímetro da sua cauda encurtar, deixando um rasto mágico à passagem.
Às estrelas cadentes evanescentes sobre as nossas cabeças, pedem-se desejos, numa esperança cega de que o perdido meteoro seja mártir e leve mais além aquele pensamento especial. Aos cometas, talvez não se peça nada de especial. Talvez apenas neles se fixe o olhar e se abra a inteligência. Para quê? Provavelmente para nada. Apenas para dizer "vi-o". Ou então para através daquele corpo celeste em trânsito no céu escuro, se sonhar em chegar mais além.
Um dia, prometi lembrar uma existência finita e já decomposta em inúmeros pedacinhos de terra, no momento em que os meus olhos se deixarem ofuscar pelo Halley. E as promessas cumprem-se. [Esta pelo menos.]
Que outras recordarei nesse dia? Tenho já uma ideia.
Que outras terei ao meu redor nesse instante? Não sei. Talvez nenhuma.
Onde me deixarei levar pelo sonho do infinito?
No deserto. Talvez...

2 comentários:

jumpman disse...

Um cometa trará sempre algo de desconhecido com ele. Talvez por, apesar de todas as descobertas científicas, imaginarmos sempre que algo mais se passará naquele corpo celeste, que toda a história sobre aquela luz com rasto que está no nosso céu, não foi contada e cada um de nós com uma curiosidade imensa de descobrir mais e mais.
E sim, as promessas cumprem-se. Se mais nenhuma, pelo menos essa que tens como certa. E o que recordarás mais? Talvez muito cedo para dizer. Afinal de contas ainda há muito para viver até lá.

E curioso que fales hoje sobre um cometa. Curioso porque o meu descanso foi feito recorrendo a livros demais conhecidos. E ainda hoje li uma história sobre cometas. Li-a num dos meus livros favoritos do Miguel Sousa Tavares. Deixo aqui um excerto.


"De seis em seis mil anos, eu preciso que o cometa volte e fique parado lá em cima a olhar-me. Preciso que me reduza a esta condição inicial, de homem com coração de criança que fica a uma noite a olhar para o céu, como se entendesse. De seis em seis mil anos, preciso que o seu brilho me lembre que sou apenas um ínfimo grão de areia na imensa poeira do Universo."

***

Jo disse...

Os corpos celestes são sempre alvo de admiração, talvez por estarem tão distantes, dificeís de alcançar e, por isso, ficamos ávidos por saber mais sobre eles.

Há que cumprir as promessas, principalmente as que fazemos a nós mesmos, porque senão teremos de lidar com isso para sempre...

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