9 de setembro de 2006

Recuperado


Era sentir aquele perfume. O teu e o da noite, então primaveril mas ainda… ainda tão timidamente assumida. Vacilante, expectante. Perfumes dispersos num ar pesado imiscuído numa leveza intrigante, inexplicada mas quiçá explicável.
Mas era mais.

Era tocar as nuvens baixas a que arrisquei chamar nevoeiro desgarrado, orvalho perecível pairando ao nosso redor, húmido, penetrante.Era ouvir o silêncio ensurdecedor bradando aos ouvidos, bem perto, muito perto, porém sem me quebrar… ou sequer deixar vestígio da sua passagem tumultuosa. E escutar ruídos conhecidos e sem novidade. Ruídos, apenas.

Era ver os aromas inseparáveis no escuro e, no fundo, tão distintos; as incontáveis gotículas suaves, macias, imperceptíveis; e a mágica ausência de sons sob aqueles acordes…

Era, afinal, saborear tudo isto.
E foi muito?

Retórica…

Não. Tudo era pouco.

Razão? Porque tudo era muito, porquanto me apercebi dos pormenores, porém era tão-somente um momento. E os momentos são (irritantemente e) por definição (como os instantes) pequenos, fugazes. Mas não necessariamente pobres… E como prefiro então esta escassez! Este pouco!

Queres que volte à realidade. Pois. Dispersei muito. Acredito. Mas não me desculpo.

Foi muito?


Foi diferente.









Longe de ter sido escrito agora, longe ter sido pensado agora.
Já com meses de pó sobre as folhas amareladas pelo impiedoso passar do tempo no sótão.
Viu hoje luz deste espaço.
Valha isso o que valer.

3 comentários:

jumpman disse...

E vale muito. Porque por um motivo qualquer, aparente ou não, resolveste trazer à luz do dia estas palavras que outrora escreveste.

Porque pode não haver nenhum motivo, simplesmente porque sim..

Anónimo disse...

as gavetas do passado escondem tanta coisa. palavras belas e imagens magnificas. sonhos.

um beijo*

Anónimo disse...

É sempre um prazer ler um texto destes :) tão belo e nostalgico.
É só pena que tenha que ir ao wikipedia traduzir 1/2 das palavras que escreves ;)