11 de abril de 2007

Sol e chuva no centro da gente

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Esta coisa do Sol e da chuva, da Primavera já não ser o que era, de não haver Verão senão por uns dias despropositados num mês estranho, do Inverno ser a estação dominante e triste deste país, não podia estar mais longe do meu pensamento. Na verdade, pouco me importa que chova torrencialmente, esteja um Sol abrasador, amanheça sem vislumbre de brilho no horizonte, persista o nevoeiro todo o ano e, apenas por instantes, o mar se acalme a poucos passos da minha porta. Grande parte do valor que se atribui a todas estas forças motivadoras, vem, no fundo, de um interior repleto de pensamentos, emoções e sentimentos [de tantas cores e feitios], que se eleva acima de tudo aquilo e se impõe, cresce, brilha. Pobres ouvidos dos mestres que me tentaram mostrar o poder da luz, do perfume das flores, da maresia… ardem, queimam, certamente, ao pressentir no ar estas minhas palavras [aparentemente] redutoras, simplistas, desvalorizadoras da magia de tudo quanto pulula ao nosso redor… e da sua subtil importante influência no estado de espírito, na tomada de decisões, no calar do choro, no abafar da dor. Ardem, não duvido, contudo podem acalmar-se os seus espíritos; não reneguei por completo os seus preciosos ensinamentos. Olho, isso sim, de uma perspectiva mais realista para o que neles se lê nas entrelinhas, para, assim, perceber o porquê de ouvir seres humanos como eu e tu, muito mais iguais do que diferentes do Eu que vive cá dentro, dizerem [de alma partida e coração remendado], que não é um raio de Sol a solução para a sua angústia. Uma ajuda? Admitem que sim. Simplesmente sabem, porque sentem [e quem sente não mente, não disfarça, não dissimula], que a tristeza que carregam perdeu o registo de nascimento e deixou que se extraviasse o mapa que conduziria ao fim da deambulação dentro de si.
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No centro da luxúria e da falta de nada que tantos desejam sem, jamais, alcançarem, olho ao meu redor e, estupidamente, sem motivo que consiga explicar com palavras inteligíveis, inundada por uma razão irracional e, decerto, errada e questionável, encontro um, dois, três escapes desta existência que não reconheço. Escapes. Não soluções. [Os sóis dos meus doentes?]
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Perder-me nas palavras que escrevo [aqui, além, num bloco amarelado pelo tempo, na alma e no sentimento] e nas muitas que leio quando me não pesam os olhos [e tanto mais… ou tanto menos].
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Afogar-me no esquecimento da real vivência, treinando um corpo que não consegue estar parado; que precisa de correr, pedalar, saltar, esticar ao máximo o mais pequenino músculo… para se esquecer de si. E do que repousa […] algures, longe da vista, perto do [meu] coração.
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E tocar ao de leve os contornos de um vulto [real, ali mesmo, perto], sentir o odor da sua pele e do perfume [mescla indescritível de sabor inconfundível], mergulhar no olhar imutável que lhe nasce nas linhas do rosto [para sempre reconhecível na multidão, mesmo quando (ou se, um dia) não mais for do que um, na vastidão de faces], ouvir o olá [quero crer] sincero e… dizer nada ou tudo quanto sombriamente espreita sobre o ombro do meu sentimento, apenas porque sim.
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3 comentários:

Alma Nova ® disse...

A tua angústia e profunda solidão saltam das tuas palavras...Será que o mundo à tua volta é assim tão triste e sombrio? Deixa que essa tal luz (do Sol...dos olhos) te inunde e aqueça. Afinal ela pode estar mesmo aí, tão perto...basta que a deixes entrar. Jokitas, amiga. Ânimo!

Angell disse...

Sabes, é mesmo isso que temos dentro de nós:"...um interior replecto de pensamentos, emoções e sentimentos..." Por vezes ficamos indiferêntes, adormecidos com o que vive e brilha á nossa volta! Ás vezes pouco importa o que se passa ao lado! Compreendo o que sentes! Mas sabes... o que dizes mostra que és um ser muito sensível, observador, complexo; que pensa e não anda adormecido. Não o inverso! Por vezes passamos grandes tristezas e sentimo-nos muito sós, no nosso cantinho; mas acredita que não será sempre assim! Acredita que a vida vai melhorar! Que vais ser feliz! Acima de tudo acredita em ti própria; que é o principal! :)

Força, rapariga! :)

Bjs!

jumpman disse...

Escapes.. Para fazer a mente desligar e vaguear para um outro sítio qualquer. Nem que seja por um curto período de tempo.

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