Na verdade, em poucos instantes pensei sem reflectir, reflecti procurando não pensar muito [para não lhe retirar o imediatismo de resposta] e não sei se cheguei a alguma conclusão. Talvez haja "coisas" [estranhas, não nego] que, depois de matutadas, não se possam dizer concluídas ou concluindo seja o que for, porém apenas se possam apelidar de um qualquer juízo [quantas vezes embrenhado num raciocínio tão pessoal, quanto incompreensível]. Temo ter chegado [patindo não sei bem de onde...] a uma dessas deveras fabulosas pseudo-conclusões.
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"Se pudesses pedir qualquer coisa [como espécie de presente de aniversário], mesmo que irreal, estúpida ou impossível, o que seria?"
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Ser Eu outra vez [se alguma vez isso/ele foi real]. Ou [então] ser aquele Eu que, cegamente, pensava ser, e que acreditava ser mais do que tudo, espelhando a certeza, a vontade, a determinação, o orgulho, a ambição. Aquele que acordava, caminhava e adormecia crendo-se dotado de forças [nascidas de alguma dor e muita mãe incógnita], bastantes para vencer a mais sangrenta batalha. Aquele que acreditava em algumas palavras e que agora lhes sorri amargamente. Aquele que afogava lágrimas quais gatos vadios em baldes do lixo, nunca as revelando e, mais, raramente permitindo que lhe manchassem o rosto coberto de pó. Aquele que escrevia [com mais de mil e um reboliços na cabeça, muitas ideias e ideais] como agora este desfigurado faz quando pega na caneta e no papel, embora mais dorido [quiça mais crescido, contudo]. Aquele que ainda não tinha roubado a si próprio o alento de Ser o que quisesse. E que podia sê-lo.
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Porque o que agora se vê é tudo menos esse Eu. Por dentro, no que não se palpa, e por fora; o próprio corpo palpável perdeu cor, brilho, expressão, saúde.
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Na impossibilidade real [julgada inexistente pelos não Eu] de comprar, alugar, construir, roubar, gerar por feitiço o único presente que sempre pedi, fica o pedido de um outro. Jamais deixar de ver [e de ajudar a crescer] naqueles vultos que ainda se passeiam ao meu redor, um [seu] Eu como aquele que julguei um dia ter.
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Agora vou jantar. E depois trabalhar.
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