Depressa, bem depressa [os números no painel brilhante não mentiam], mas ciente do que ia a fazer. Afinal, tinha nas mãos [apenas] uma vida e no peito a vontade de me [envolver e] deixar levar pela música que dançava rente aos ouvidos, como que desenhando um casulo invisível sob o metal reluzente.
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As curvas matreiras recortadas na paisagem quase se confundiam à distância, abrindo-se em longas rectas negras, vazias de outros condutores errantes [e domingueiros de trazer por casa...], inundadas pelo Sol tímido, nascido há não mais do que instantes [despontando por entre o nevoeiro teimoso] e fazendo-me respirar fundo [ar e, porque não, o som que se insinuava ao meu redor, saído das colunas vibrantes cuidadosamente dispostas para que me não esquecesse de cada acorde]; fixar o olhar no horizonte e distanciar-me do lugar onde acordo, da gente que me não faz sorrir, disfrutando da abstracção que muitos dizem poder antes encontrar numa revista cor-de-rosa [?!... Maria-rapaz? Sem dúvida!], porém que prefiro encontrar numa viagem [daquelas que levam longe sem se ir muito além de um punhado de quilómetros] comigo mesma, partindo para um destino imaginado horas antes, testando os reflexos e a destreza, transfigurando ideias nesse tempo de atenção redobrada, colorindo as dúvidas e as vontades com o ruído abafado da borracha quente levitando sobre o asfalto, sabendo que cortava o ar mais depressa do que o pensamento de gente que nem sabe que é humana [quanto mais que pode pensar...], conduzindo a máquina e deixando-me abraçar pela sua frieza reconfortante..
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Como que vivendo em suspenso enquanto a música tocava e o carro fugia à velocidade de um piscar-de-olhos. Porque é também esse o tempo que destino a quem me revolve as entranhas.
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5 comentários:
Antes uma maria-rapaz com os traços de mulher vísiveis (para uns), que alguém saído de uma qualquer revista do tal mundo cor de rosa.
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A velocidade louca, a vida em suspenso...será que é por aí o caminho?! Jokitas.
Na dúvida, experimenta-se...
A rebeldia, o ser maria-rapaz, o carro a rolar em alta velocidade... Um escape, uma emoção forte; que nos leva para outro lugar; longe do que vemos todos os dias. Uma adrenalina, que aquece e faz bem á alma. Ás vezes, a vontade de evasão faz tanta falta... :))
Bjs!
lol, na dúvida experimenta-se...
Gostei da velociade e do som ambiente ;)
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