4 de agosto de 2007

No banco de café

Simplesmente está para lá do que possas querer. Está muito além dos dias que passas olhando para um céu sem fim, das noites que me dizes serem frias e sem sentido, das madrugadas em que, errante, te passeias sem rumo nas ruas estreitas da cidade escura, sem vida; ou sem a vida que queres que tenha ou sem aquela que conheces e não temes. Está tão fora o teu entendimento que nem tão-pouco arriscaria pensar que possas compreender que não sabes do que se trata. Já o tentei fazer. Imaginar. Fazer-me crer que poderias almejar esse saber. Ingénua forma de pensar essa que me tolheu o verdadeiro pensamento! Como me enganei! Como pensei que as subtilezas mais gritantes pudessem ser-te também evidentes! Só agora, neste banco de café, paredes meias com uma grande janela sobraceira à cidade em reboliço, dou a mão à palmatória e decido decididamente e sem dúvidas, que sei muito mais dessa tua ignorância do que deste natural fumegar que se eleva da minha chávena, pendente entre dois dedos. E se assim é, para quê teimar? Insistir em quê? Em ser "não exactamente aquilo que queria"? (...) Vai ser de rompante. De enfiada, como diz o puto lá da rua. Fácil, difícil, doloroso, aliviante. Um misto de tudo, quem sabe. Ou mesmo nada disso. E então apenas o fruto natural de uma necessidade inexplicável, que deixará marcas de sangue um pouco por todos e cada um dos caminhos que for trilhando no teu encalce. (...)

Recuperado do caderno, Agosto/'06

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Julho/'06, Foz do Porto

3 comentários:

jumpman disse...

Recuperado do caderno.. Como a chamar por ti. Por um motivo, sem um motivo aparente.

Simplesmente a chamar por ti e a pedir para mais uma vez conhecer a "luz do dia".


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Jo disse...

E que bom foi ler este texto, embora sentisse uma tristeza subjacente...talvez não seja tristeza, só tu saberás o que ée só a ti te pertence a sua definição. No entanto, digo-te de coração que adoro a tua forma de espalhar no papel o sentimento sentido num simples [e talvez não tão simples assim] banco de café. Muito sinceramente.

um beijo.

Anónimo disse...

Recuperado do caderno ou presente na mente? Vivências passadas são como a água de um rio que lentamente salta de pedra em pedra, molhando pensamentos, recordando momentos, esses que por vezes pensamos estar no esquecimento...
Mas no fundo recordar é bom, é estar vivo, é pensar e renovar os nossos dias com as experiências vividas.
Estar vivo é simplesmente ter sentimentos.

Bjs
sniqper