14 de setembro de 2007

All in All

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"- Vou ler um bocadinho. Até amanhã."
E mais não é preciso. É noite. O jantar já foi. E toda a gente está em casa, preparando-se para sair ou para ficar no descanso de um lugar acolhedor.
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É apenas discurso recorrente, comentário com barbas para não ter que ficar ali; sem vontade de conversar, sem o mínimo interesse nas figuras que povoam a televisão ligada, completamente indiferente às imagens das revistas que espelham o mundo lá fora, imensamente longe daquele lugar.
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São apenas palavras inconsequentes, não concretizadas ao passar a porta do meu reduto. No fundo, nem leitura nem escrita. Nada. Apenas um acender de luz ténue, numa tentativa de coisa nenhuma ou de afastar o escuro que dança nas paredes altas e que nem o luar lá fora consegue clarear.
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Somente um sentar e recostar na cama desconfortável, olhando não sei para quê, porquê ou até quando. Por vezes cruzando as pernas, algumas outras abandonando o corpo à inércia. Sentindo vontade de nada dizer nem fazer e ficar só ali. Só. E ali. Sem mais nada. Sem contar o que for a quem quer que seja. Não esquecendo a dúvida, porém ansiando por não ser assim. Por não estar assim. Sem querer. Sem gostar. Intringando quem ousa perceber, infelizmente.
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Nada mais do que silêncio por entre acordes que ainda vão entrando naquele quarto. Um silêncio de alma, pensamento, sentimento. De tudo. Que cresce quando o sono se escapa por entre os dedos, esse sono que teme a manhã, a madrugada e a noite que ainda é.
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E uma lágrima que não corre.
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"- Vou ler um bocadinho. Até amanhã."
E mais não é preciso. Ninguém tem que saber que os livros há muito não são desfolhados. Esquecidos e evocados sob a máscara da desculpa evitante.

6 comentários:

jumpman disse...

E a mentira necessária, para poder obter um refúgio em nós próprios, sem saber muito bem o que fitar ou pensar..
Simplesmente um qualquer tipo de refúgio. Diferente e e consequentemente muitas vezes incompreendido.

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Jo disse...

"Um silêncio de alma, pensamento, sentimento"

às vezes só o silêncio nos pode preencher e valer. às vezes, só a sua vibração nos pode compreender.

Chris disse...

Ao fim do dia sabe bem um espaço só nosso. :)

Escreves lindamente (:
Beijoka...

Anónimo disse...

Ninguém tem que saber... só tu necessitas de saber o que de melhor deves fazer para viver.
Um até logo é a melhor forma de continuar, de não ter de estar por estar, é a porta que nos leva para o nosso canto, esse que todos precisamos para encontrar um pouco de descanso.

Kisses
sniqper

Alma Nova ® disse...

Um "Até amanhã" que nos tira de onde não queremos estar e nos traz aquilo que é apenas nosso, mesmo que despojado, mesmo na solidão, mesmo não "esquecendo a dúvida...", mesmo "sem querer. Sem gostar.". Somos nós!
Jokitas.

Divinius disse...

Linda musica a so teu blogue...
Gostei muito de te ler.
BJS*)))