22 de outubro de 2007

Quando se pára

Cheguei.
Cheguei aqui vinda de sítio inominado, passados muitos anos desde ter começado a andar, de olhos abertos e mãos mergulhadas nas recordações; as que se relembram e as que se constróem.
Cheguei aqui hoje também, despertando do mundo da magia que me levou a sobrevoar o esquecimento das mágoas, vivendo minutos pesarosamente finitos de... fuga.
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E tenho comigo uma dor que chama baixinho e cresce quando a razão fala e o sentimento se impõe. Tanta gente sofre a perda de sustento, vive enclausurada entre paredes frias e grades que dividem o Sol, acorda doente e sem esperança de sentir muitos mais acordares, caminha mutilada e treme a cada ecoar de bomba inesperada.
E eu, que aqui cheguei vinda do Tempo que me impeliu e do Lugar que me acolheu, devia esconder a cabeça com vergonha e bendizer o que, mesmo sem descrição que lhe conheça, me corrói a cada dia. No fundo, a maior benção que poderia descer sobre as almas que vejo ao meu redor em sofrimento.
Eu, que sinto a escalada da minha mesquinhez quando vejo os pesares que se abatem sobre estas almas, pressentindo o estilhaçar das minhas maleitas perante a pequenez que as reveste. Mas tenho pesadelos que sobressaltam o sono atribulado, gravando na minha almofada aquele arrepio eterno ao adormecer e a angústia do vazio enraizado ao acordar. E caminho sem saber porquê nem até quando. Ou para quê. Ou onde.
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Ainda assim, sorrio ao ver-te dormir. E vigio o teu sono. Na noite, na madrugada, na manhã nascente.
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7 comentários:

Fragmentos Betty Martins disse...

Querida Maria Jose

Lindo-tocante o teu texto__________mas "Quando se pára" NUNCA!!!

Beijinhos com muito carinho
boaSemana

Alma Nova ® disse...

O tamanho da dor individual não se mede ou se compara. Cada um sente as que são suas mediante a sua própria medida e relatividade interior. Não te sintas culpada pelo que sentes só porque sabes que há quem possa estar pior que tu. São os sentimentos que nos transformam em Seres Humanos.
Jokitas.

Anónimo disse...

Minha Querida Amiga,
Tu caminhas consciente do que te rodeia, sofres por tal, como tal és essencial para minimizar essa dor que vês ao teu redor, com a tua força, com o teu querer e sentir, muitos minutos de paz já foram partilhados com quem vês sofrer, essa é a tua razão de caminhar.
O teu destino, nem que te pareça agora penoso, sem rumo, ele tem uma razão de ser, foste escolhida, tens uma missão, viver.

Oliver Pickwick disse...

Gostei das crônicas, assim como dos outros textos.
Talvez por termos nada em comum. Calma, garota! É que no título do meu blog tem a palavra nada também.
Tenha uma ótima semana e parabens pelo trabalho.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá Maria José,lindo texto.
Adorei!!!
Deixo-te beijos de boa noite.
Fernandinha

Luis Ferreira disse...

Lindo texto, muito reflectivo e encatador

Parabens

O Profeta disse...

Dispersos sentires em vigilia terna na madrugada...

Secretamente recolhida na noite
Delicada gota com a luz da ternura
Fiz calar a voz do sentido pranto
Ribeiro que transporta a água mais pura


Bom fim de semana


Doce beijo