26 de outubro de 2007

Sentidamente

Quando era pequenina, muito pequenina mesmo, aprendi com gente grande a rezar. Melhor, aprendi que podia conversar de forma especial com alguém que me ouviria na solidão dos dias ou no extase da conquista.
Retive palavras da minha mãe que ainda ecoam, dizendo-me calmamente para guardar uns momentos antes de adormecer para falar na minha língua sobre-humana com esse companheiro de viagem; estivesse sorrindo por dentro ou brontando lágrimas na almofada, lembrando na minha oração simples quem mais acarinhava.
Recordei sempre os meninos que dormem relento, sem o calor de uma casa, e os crescidos afastados da sua terra pela força das armas encobrindo a fraqueza dos Homens.
Nunca esqueci quem me ajudava a crescer depois de me ter dado vida, muito menos olvidando o companheiro de brincadeiras que dormia, sereno, num quarto colorido perto do meu.
Mas não tenho memória de lembrar outra gente.

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Até que um outro nome entrou na minha conversa silenciosa, antes de adormecer. O teu.
Recordo-te para que também um anjo de asas negras vele por ti no sono atribulado que pudesse esperar-te, colocando sobre ti a mão que em sonhos deixo que seja minha.
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4 comentários:

Luis Ferreira disse...

Quero agradecer a visita e o comentário no Almas Poeticas.

Venho convidar-te a visitar o meu blog o Mar de Sonhos.

Mais uma vez reli os teus textos e senti as palavras, o conteúdo, a mensagem.

Parabens

jumpman disse...

E peço eu também, que esse anjo de asas negras que percorre este mundo e outro qualquer onde a entrada nos é proibida, proteja aqueles que com as palavras ou com o silêncio, com o olhar ou com o toque, me são mais preciosos.

Mais que tudo o que possa existir nesta existência fugaz.


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Anónimo disse...

Cada dia que passa amiga, mais gosto do que escreves.
É como ver um filho crescer, as tuas palavras desenham sem sequer precisarmos de fechar os olhos e imaginar, continua.

Alma Nova ® disse...

E no espaço já distante da nossa infância residem muitas das âncoras invisíveis que ainda hoje nos seguram, sem que mesmo nós as percebamos...E é bom recordá-las!
Elas sussurram no nosso ouvido esperanças e forças que julgamos já perdidas e tornam-nos guardiãs de quem povoa os nossos sonhos.