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Respirei aquele ar frio, vindo do mar, fechando os olhos sem querer mas por serem pequenas facas geladas as gotas de um fino nevoeiro que baixava sobre a cidade. Lentamente. Muito devagar, naquele limite da terra banhado pelo Atlântico. Oceano imenso e surpreendentemente calmo ao chegar o fim da tarde, deixando-se cobrir por nuvens baixas, ainda translúcidas, matizando o Sol que se punha e maravilhando quem passava e, por momentos, se detinha. Quer ansiasse pelo regresso a casa, percorrendo a marginal que se enchia de faróis, quer não a tivesse quente e acolhedora; antes a carregasse às costas. Dia após dia. No calor do Verão, no Inverno húmido e escuro.
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Respirei esse ar que conhecia desde sempre, que falava comigo baixinho quando a voz da gente se calava ou articulava palavras que não me diziam o que quer que fosse que merecesse ser ouvido.
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E senti no rosto a chegada da noite, iluminando os passeios, mostrando os contornos do que eram apenas sombras ao amanhecer. Caminhando, arrepiei-me ao cantar de uma nortada e tive a certeza de estar no sítio certo.
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Na minha cidade, na companhia do ruído das pessoas sinceras, dos acordes melodiosos que apenas ouvidos aqui nascidos sabem escutar, do cheiro a mar e a flores de Inverno.
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Aquele lugar único que aconchega o coração na solidão. Que abraça cada um ou dois de nós, nos torna mais cúmplices e conversadores em silêncio. Partilhando medos, mentiras, sorrisos matreiros.
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2 comentários:
Querida Maria José, caminho nas nuvens lendo os seus textos tão serenos, e "ouvindo" as paisagens que "falam", tão bem descritas por você.
Você tem estilo, uma marca; como as retinas dos olhos, as impressões digitais, seus textos são únicos.
Gosto da sensação de aconchego, de penumbra suave, e da doce harmonia desse seu lugar.
Obrigado por me permitir visitá-lo sempre.
Um beijo, e tenha um ótimo fim de semana, se possível, nesse lugar que você descreveu.
E a certeza de estarmos no sítio certo traz-nos a Paz e o aconchego, seja na solidão ou na cumplicidade partilhada, onde os sorrisos, os abraços e os silêncios falam mais que todas as palavras do mundo.
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