16 de dezembro de 2007

Leituras e constatações

Naqueles livros que recolhem pequenas histórias escritas ao ritmo de cada dia, umas mais longas, outras igualmente cuidadas mas um pouco mais poupadas em palavras, quase sempre leio umas páginas relembrando o Natal de infância ou aquele que hoje acontece, não raras vezes descrevendo o escritor, amargurado com a sua própria inoperância face à tristeza, fome, frio e abandono da gente que o cerca nas ruas aparentemente cheias de alegria, as rotinas desses dias de Dezembro; a dos bolos e salgados, das prendas e dos enfeites piscando por tudo quanto é canto, da azáfama da quinta de infância e da cidade de agora, e aquela menos conhecida (ou preferencial e, quiça, convenientemente esquecida) dos pés gelados e barrigas pedindo o que sobrar da mesa da primeira.
É assim, nesses livros.
No meu, que não existe, que apenas se pode folhear na imaginação, não há páginas assim. Nem sequer enfeitei a casa. Tão-pouco andei de loja em loja procurando os adornos perfeitos que jamais se encontram. O presépio espreita sob o candeeiro, mas apenas ganhará vida na noite de Natal, quando realmente faz sentido. Árvore e luzinhas e fitas e doces sem fim, deixando por vezes um cheiro enjoativo no ar, tal a mistura de sabores, ficam para outra vez. Ou para quem quiser adormecer na sua companhia ou sentir o calor das pequenas luzes quando, despertado a meio da noite, atravessar a sala com um copo de leite e regressar à cama ainda quente.
Eu, desejo somente dormir tranquilamente toda a noite. E, na da consoada, saber por perto um presépio de palha e barro. E uma velinha trémula ao seu lado.
.
.

5 comentários:

Afonso Faria disse...

Compreendo-te e sem grande esforço!

jumpman disse...

E não será esse desejo mais importante que todas as luzes que possam iluminar uma casa?
O poder adormecer tranquilamente, numa noite que se espera que traga a paz necessária para se poder fechar os olhos como outrora se fechavam.

Alma Nova ® disse...

Amiga, tenho histórias dessas, sim...dos dias em que, ainda pequenita me levantava de um pulo com a curiosidade à flor da pele...assim como, mais recentes, via o mesmo acontecer ali mesmo à minha frente...olhos piscos de sono mas que recusavam fechar-se antes da hora prometida.
Hoje...recolho-me no silêncio e nas lágrimas caladas...

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

Agora podes encontrar-me aqui:

http://oladobdalua.blogspot.com/

Beijo

Idiota disse...

Natal...
Por onde hei-de começar...
Ok pelo texto...
Histórias que nos lembram uma consoada farta, memórias de infância, azáfamas Natalícias...é mesmo assim... Nos livros e revistas coloridas.
Um natal frio, mas aceso para mim é um Natal sincero.
Na minha intimidade existe sempre frases feitas, passados presentes, alguma felicidade, mas obrigatoriamente passado em família. Fatalmente nunca senti, o espírito de NATAL. Ou se calhar nem me tenta recordar.
É quase como um sorriso forçado que se mantém por causa de outros, dos que ainda vão gostando de nós.