Ouvia-se um bater de talheres ali ao pé. Não muito longe, alguém como que acordara de repente para a noite e perguntava pelo petisco que adivinhava e pressentia prestes a chegar. Do outro lado da mesa, uma gargalhada ao recordar uma queda na neve há uns anos, fruto da inexperiência dos petizes e da falta de jeito do pai, enquanto a mãe preferia a segurança de ser o repórter fotográfico. Uns lugares mais abaixo, sussuros; contava-se uma história em surdina, nascendo sorrisos dissimulados no momento final da decisão sobre a partida que pregariam a um de nós.
Passos apressados mas certos rangiam o soalho brilhante, carregando nas mãos enluvadas travessas fumegantes, para deleite dos anfitriões e gente de fora, mas já quase de casa também. O dono da casa apresentava as garrafas de vinho que selecionara da garrafeira que ia construindo ao sabor dos anos e do paladar refinado. Abria-as cuidadosamente, deixando que o aroma quente subisse no ar e desse novo perfume ao salão enriquecido pelas iguarias doces e salgadas preparadas nesse e noutros dias, e presenteava família e amigos com novos detalhes de sabor.
Todos iam sendo servidos e adoçicados pelos serventes e pelo acochego que lhes chegava às entranhas.
E foi então que olhei ao meu redor. Observei tudo.
Senti perto uma presença ausente.
A saudade tocou-me no ombro. O sorriso que me atendia o telefone ecoou na minha alma. A mão que afugentava o frio dos meus dedos gelados acariciou-me por dentro. Mas só aí.
Não estava ali.
E por instantes, também eu não.
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9 comentários:
No meio do calor humano, onde sorrisos e felicidade se espalham em cada canto, ela chega devagar, pousa a sua mão fria e faz estremecer o nosso corpo quente, esse que ansioso se perde na ausência que marca, cada instante...porquê?
Não há iguarias tamanhas ou sabores extraordinários...nem o calor humano é quente o suficiente...para apagar essa ausência, para colmatar essa falta...que marca cada segundo de espera bem no fundo do coração.
Olhos abertos de espanto
A esperança renovada
Há um novo ano que anuncia
Os passos da felicidade na sua chegada
E porque gosto de ti
Companheira de viagem
Que a minha companhia
Não seja uma miragem
E porque tocaste o profeta
Com a delicadeza da tua terna mão
No abrir das minhas portas
Ilumino teu coração
Um mágico 2008
Um beijo da luz
Passando para te reler amiga, é sempre com imenso prazer que passeio os olhos pelo jardim das tuas palavras, gosto de te ler.
Um Big Beijito, e que o Ano de 2008 seja tudo aquilo que desejas para a tua vida.
Está tão lindo o teu blog=)
Mesmo nas melhores ocasiões, a saudade não deixa de apertar...será que um dia deixa de doer? Nem sempre, só às vezes.
beijinhos
Reli palavras de saudade...e o meu coração respondeu...
Minha amiga, um Bom 2008, com todos os bons sentimentos a que tens direito pelo ser humano lindo que és.
Um beijito.
"...No fundo, homens e mulheres são muito diferentes, o que não impede (muito pelo contrário contribui para) que consigam coexistir..."
Ninguém me entende melhor do que você, Maria José, embora às vezes discorde do que escrevo (risos).
"Senti perto uma presença ausente."
É um privilégio saber captar essas histórias das ações mais comuns e cotidianas, não é?
Está bonita e feliz na nova foto. Desconfio que anda escutando com frequência a sua similar de My Funny Velentine.
Estar acompanhado por gente que a nós está ligada por laços indescritiveis, mas mesmo assim sentir a falta de uma presença.
Diferente e única.
Fechar os olhos e sentir essa presença ao nosso lado, mesmo que por instantes.
Opah adoro os teus textos... são tao faceis de visualizar...
(:
Aproveito também para te desejar um Bom Ano de 2008 que o melhor de 2007 seja o pior de 2008 (:
Beijo grande
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