13 de março de 2008

Aconteceres

Uma vez vivida a perfeição, todos os pequenos quês desinteressantes e acontecimentos circunstanciais vazios de conteúdo, são nada mais do que nada; uma imensa perda de tempo e gasto desnecessário de sentimentos.
.
Tocado o etéreo como jamais houvera quem o alcançasse, fica cá dentro o conforto desse instante, vivido num tempo e espaço deste mundo, porém certamente caído de um universo que não este. Porque sim, este infinito que cremos expandir-se e afundar-se no gritos abafados de buracos negros, tem um parente próximo; que vive dos nossos sonhos, ambições e momentos únicos de perfeição, a todos eles oferecendo morada eterna.
.
Uma vez tocada a perfeição, as mãos agarram cada pedacinho de si e não deixam que fuja. Não deixam que escape do dia nem da noite que acontece; não se abrem ao desbarato e, antes, descerram-se lentamente ao Sol ou embaladas pelo perfume de uma vela na escuridão, oferecendo vida às memórias desse agora ou desse ontem que as coloriu e aqueceu. Nem que por uma vez. Nem que por um instante.
.
Porquê? Tão simples, tão belo, tão misterioso quanto isto: pela serenidade sem preço que a perfeição de um olhar deposita no fundo de nós, para sempre. A perfeiçao que nos fala ao ouvido depois por dentro. Quando, sozinhos, adormecemos na sua companhia, procurando o sono. De corpo caído. De cabeça noutro mundo. Um daquele outro universo. Aqui tão perto.
.

10 comentários:

jumpman disse...

Momentos em que existem aconteceres de perfeita cumplicidade e de um escape único.
Aconteceres..


"so put your arms around me.."

ContorNUS disse...

que ilumina o olhar...e enche a alma ;)

Alma Nova ® disse...

Que dizer? Apenas que me sinto tantas vezes um ser alienígena, chegado de uma qualquer lugar perdido no espaço e caído num mundo desconhecido e desinteressante. Não fora ter encontrado outro ser da minha espécie...não sei que andaria por aqui a fazer!

Idiota disse...

Não acredito na perfeição.
Acredito na sintonia momentânea, no isocronismo casual ou num bem estar reciproco derivado de não sei quês... que na verdade nem são relevantes nem interessantes... anyway... whatever... Um texto muito romântico... a "consumir" em dias quentes ou a digerir uma paixoneta...[bem, que deveria ser o meu caso... how the fuck am I???, never mind...]

Maria José disse...

Se bem que muito raramente o faça, hoje tenho que escrever no meu próprio painel de comentários. É certo que cada qual lê as palavras que lê, à sua maneira; tem que ser assim. Porém, digerir uma paixoneta? Ler em dias quentes, como que evocando casos de horas numa noite de loucura? Nada disso. Nunca. Não. Antes viver eternamente apaixonado. Porque essa perfeição existe. Tudo depende do quem somos e como encaramos a perfeição na nossa vida.

Digerir paixonetas e dias fugazes sem futuro? Não, obrigada.

O Profeta disse...

Aconteceres acontecem...alguns são especiais não voltam acontecer...


Doce beijo

Anónimo disse...

A perfeição só se atinge na arte, não na vida.

Maria José disse...

Uma nova vez regresso a um espaço menos meu. Apenas para dizer, o que será da vida, se não for em cada instante uma construção de arte e engenho?

...

Idiota disse...

Ok...Ok...
Eu exagerei...Péssimismos casuais...

Comprendo... Compreendo...

Sorry the bad language on your blog comments.

Oliver Pickwick disse...

Prefiro conceber que a perfeição não existe, ainda admitindo que a busca de algo parecido é salutar. Atingir um estado similar ao nirvana, conforme reza o hinduísmo, e, também - em outro contexto, como sugere seu texto, é um portal para o desinteresse pelas circunstâncias por advierem.
Beijos!