22 de março de 2008

Despertar


O que vejo daqui são umas nuvens escuras, mais do que o azul que espreita brilhante de permeio, sem dúvida, que querem chover e molhar o chão por baixo dos meus pés. Umas nuvens também geladas, dispersas por cima da minha cabeça humedecida por uns quantos pingos irreverentes que se desprenderam e chegaram cá abaixo. Um céu que, posso dizer, vimos por esta altura certamente de todas as formas; assim soturno, imensamente denso de estrelas no pico do Verão, ou tão-somente infinito como sempre.
Acordo e ouço os carros que irrompem nas poças da estrada, molhando os passeios, salpicando as pedras do caminho.
O que vejo quando acordo é um nevoeiro que se dissipa, como no fim das histórias mágicas, qual ponto final no conto interrompido por um aparte, depois retomando a linha da narrativa. Esse nevoeiro que envolveu as esquinas na madrugada, escondeu corpos e mostrou vultos inominados na beira da estrada.
E lembro-me das horas que passam tão depressa, que correm desnorteadas e me escapam das mãos cerrados. Tão depressa. Simplesmente tão depressa. Adormeci e não te ouvi chegar. Boa noite atrasada. E bom dia agora.
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4 comentários:

Idiota disse...

Quando venho aqui tenho sempre um gosto enorme...
Lembra-me de certo modo certas coisas na vida que têm um ritual...Assim de repente, lembro-me do pato à Pequim, que se embrulha num fino crepe, com os fiozinhos de alho francês(?), e a pitada q.b. do molho...
Ao vir aqui tenho sempre um aroma doce e carnudo de um texto agradável, uma imagem a harmonizar e uma música ou clip para rematar o acompanhamento....
Peço perdão por uma comparação tão... sem jeito e alimentar mas foi o que me lembrou... enfim.. "comida" para a alma ;)...
Adoro este Blog!
(E não é graxa! É verdadeiro.)

Alma Nova ® disse...

Perdida nesses pingos frios que irrompem pela noite,...sempre o tempo! Esse que insiste em comandar e foge, por muito fechadas que estejam as mãos.
Que o dia se prolongue...sem que o tempo o detenha!

Oliver Pickwick disse...

Por vezes o essencial esconde-se na densidade do nevoeiro. Depois, vai com o vento. Precisamos de armadilhas para retê-los.
Beijos!

P.S.: Lindos óculos, deixou-a ainda mais jovial! Por certo haverão de clarear a sua visão e perspicácia diante dos mapas da mente. Fora dos mapas, basta a sua percepção - como sempre, para fazê-lo com maestria.

jumpman disse...

E eu cheguei devagarinho e enrosquei-me a ti. E fiquei a olhar para ti no escuro.

Até que acordasses.