16 de junho de 2007

Desliza

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E como tenta... com uma palavra, um gesto, uma surpresa, um ralhete até.
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Tenta tocar de novo um mundo que, erradamente, pensa ja ter tido perto de si. Mas que nunca esteve próximo, porquanto sempre distante, mesmo se aparentemente ali ao lado.
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Tenta estar perto, conhecer, saber mais, perceber melhor quem, afinal, nutriu dentro de si e, um dia, apresentou ao mundo, para que crescesse, sorrisse, brincasse e se afirmasse. Mas é uma luta inglória. Dia após dia. Desde há muito. Desde sempre. Não atravessa os portões cerrados, nem entra pelas falhas nos muros espinhosos que se erguem na menina diferente.
Na verdade, quem dela se alimentou num resquício de vida há muito começada, cedeu nessa passagem transitória apenas às forças da natureza, como que usando e abusando de um ventre quente para poder assim tornar-se o corpo forte que havia de ser dado ao mundo num dia de calor.
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Mas ela tenta sempre perceber quem, afinal, se senta naquele quarto olhando para o nada, lendo de tudo, nada dizendo de si, vedando-lhe acesso aos desabafos que gostava de ouvir e às dores que queria acalmar. Aproximações em vão.
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Continua tentando, talvez sem saber o quase nada que sabe de quem vê, ali. E nota-se. Na voz, nas palavras, nos gestos, nas surpresas, nos silêncios, que continua tentando. Com alguma mágoa. Com dor de mãe.
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Só que não sabe a imensa distância que nos separa. Cada vez mais.
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6 comentários:

jumpman disse...

Uma realidade, que por vezes acontece mais do que queremos admitir..

Talvez porque existam coisas que nunca perceberão e que a proximidade que une nunca conseguirá rebater.

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MeninaLua disse...

Nunca custa tentar...


beijO*

Anónimo disse...

Separações. Distâncias. Interrogações. Conclusões. Decisões...
Uma vida, um percurso. Ou simplesmente um caminho percorrido com medo? A verdade onde está? Porque fugimos dela? Pois não sei, mas gostava...

Anónimo disse...

"Mãe:/ Que desgraça na vida aconteceu,/ Que ficaste insensível e gelada?/ Que todo o teu perfil se endureceu/ Numa linha severa e desenhada?" (Miguel Torga)

Letícia

Angell disse...

Nem sempre as pessoas que mais nos dizem; com quem mais convivemos; temos as relações mais fáceis. Talvez sejam as diferanças de opiniões, de estar com a vida...

Bjs!

Idiota disse...

Já não sei onde ouvi isto, mas acho razoável:

Quando crianças idolatramos os nossos pais, em jovens simplesmente quebramos laços e tentamos ser o mais diferente possível deles, mais tarde seremos e diremos o mesmo que eles (se não conseguirmos ser diferentes, eu espero ser inovador;)...).

O problema está naquele momento de separação por vezes a ruptura que criamos fica tão distante (por diversos motivos) que jamais se reconstrói a ponte de união comunicativa, vivencial enfim entendível...

(Não sei se ajuda, mas existem situações piores... ;), digo eu, porque acredito que a nossa situação seja sempre a pior para nós mesmos)...