7 de julho de 2007

Ao relento

.

Uma espécie de calma estranha. Um sossego, porquanto temido, que devia cristalizar cada milímetro cúbico de pele. E que o faz, de facto [ou que o fez], ao bater do vento agreste à porta pesada de madeira exótica de outras paragens, ou imiscuindo-se por entre o cabelo espetado, quando ainda lá estava.
.


Foz do Porto, 2006

.
Em pé. Olhando o horizonte; com a cabeça pesada, o pensamento confundido, o sentimento perdido, o coração apertado, sangrando lentamente e sem saber bem porquê [ou não querendo saber]. Mas também de joelhos junto ao peito, sobre um banco improvisado e olhos postos na imensidão azul-acinzentada que tinha por diante. Respirando fundo numa tentativa de aliviar [Oh! Engano que tentam vender a todo o momento!] o peso que derreia o corpo instante após instante. Um peso surgido do nada, vindo de nenhures e instalado por gosto. Ou para alertar. Para ser uma chamada de atenção, uma campainha, um sino subtil.
.
Porém, uma espécie de calma estranha trespassou, numa fracção de segundo, os milhões de átomos ali congregados. Coincidente com quê? Um cometa? Um relâmpago? Um pingo de chuva mais quente? Com nada. Fê-lo apenas. Deixando um rasto de incerteza.
.

3 comentários:

Idiota disse...

«Um peso surgido do nada, vindo de nenhures e instalado por gosto. Ou para alertar.»->Gosto...do som da frase... enfim, tocou-me

«Respirando fundo numa tentativa de aliviar [Oh! Engano que tentam vender a todo o momento!]» :), Às vezes ajuda, outras complica..., é preciso mais, sempre mais, do que uma vida para estes (pequenos) truques :)...

:)

Chris disse...

"numa fracção de segundo" pode mudar tanto à nossa volta...

Acho que já disse isto, mas volto a dize-lo, escreves maravilhosamente bem (:

Beijo enorme

jumpman disse...

"Olhando o horizonte; com a cabeça pesada, o pensamento confundido, o sentimento perdido, o coração apertado, sangrando lentamente e sem saber bem porquê [ou não querendo saber]."

Porque nos acontece mais vezes do que as desejadas..

***