10 de julho de 2007

As histórias que se ouvem e se escrevem nos livros

De olhos estranhamente serenos, como que invadido por uma calma imensa, não sei se pela exaustão se pela chegada do silêncio do reencontro consigo, aquele corpo articulou, ao ritmo do vento, uma imensidão de nada (ou de tudo) resumida em poucas palavras. Mentira. Só podia ser mentira e não facto certo, o que ouvia naquela voz sem trémulo. Ou não queria que fosse. Talvez fosse mais isso. Sim, talvez. Por tudo e por mais qualquer coisa que ainda há-de vir à ideia, não podia ser assim. Não podia.
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Pensei, olhei para ontem, para o presente que não tarda deixará de estar aqui ao lado.
Olhei para o Sol quente que regressará em outras manhãs.
Revi os dias que passaram, na busca da ponta do novelo. Mas nem o fio encontrei. Talvez não exista. Talvez tenha uma existência tecida em fina seda de aranha tropical. Fugaz.
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Perdi-me.
Já não sei adormecer.
E acordar é sentir o Sol ou a chuva sem que a pele queime ou se arrepie.
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Mentira. Só podia ser mentira. Queria que fosse um engano.
Por ser mais fácil.

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Fácil, mas irreal.
Longe da verdade que lia na serenidade assustadora daqueles olhos sem cor. Tão negros quanto profundos. Por demais fundos.
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Porque pouco pode fazer doer tanto ou mais os sentidos que abraçam esta confissão do olhos.
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4 comentários:

Idiota disse...

Existem olhos que conseguem enganar a (sua) própria alma...

Existem outros, que quem os tenha, e sempre (apesar de negros, de queixume, ou não), apresentem uma transparência infinita sobre si mesmo... fra[n]queza essa que nenhum "amigo" consegue esquecer...

«Mentira. Só podia ser mentira. Queria que fosse um engano.
Por ser mais fácil.»
[...]
«Porque pouco pode fazer doer tanto ou mais os sentidos que abraçam esta confissão dos olhos.»

jumpman disse...

E por vezes articular uma imensidão de nada é o melhor que um corpo pode fazer.

Simplesmente para se tornar um todo e um nada ao mesmo tempo. Porque quantas vezes é preciso reduzir tudo ao mínimo e daí reconstruir tudo. Mesmo que essa intenção seja um pensamento para um dia que está para vir, poderá ser o começo de algo que ainda não estava definido.

***

Angell disse...

Os olhos, sendo o espelho da alma; o tanto que podem dizer... Será que podem mentir? Não sei, talvez!

Bjs!

Anónimo disse...

Um olhar, são palavras em movimento...
Não ouvimos mas sentimos...