17 de julho de 2007

Vultos

Vi apenas que olhava um copo estranho, fazendo rodopiar um líquido sem cor.
Reconheci traços de dor e caminhos lavrados por lágrimas antigas, qualquer deles pesando sobre ombros encurvados e olhos presos no infinito daquele balcão, longe da música, distantes da gente, perto de si, apenas.
Aproximei-me sem me fazer notar, passei e continuei a caminhar. E ouvi, no silêncio daquele corpo, o pensamento sereno que lhe trespassava o coração.
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Ouço a voz como se fosse agora mesmo esse discurso falado. E quase parece real o ondular do ar à passagem das palavras. Quase parece possível agarrar o perfume das roupas; essas que desenhando os contornos de ti, sorriam sobre um corpo sussurrando a tua mensagem. Mas fiquemo-nos pelo quase. Não vai além disso. Porém, quase parece poder ser mais do que uma memória. Ou um sonho. Já não sei bem onde melhor se ambienta a recordação da imagem de ti que guardo sem saber porquê, até quando ou se para sempre.
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Não era ali o meu lugar. Quer falasse, quer escutasse, quer tentasse ser eu ou outra pessoa, apenas lhe traria a necessidade obrigada de partilhar o impartilhável, pelo menos para já. Quiça para sempre.
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Mas reparei que ergueu o olhar.
Passei, apertei-lhe com força o ombro e segui.
Ergueu o olhar e tomou novo fôlego.
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Resta-me pensar que possa ter abandonado o copo e descansado.
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9 comentários:

Anónimo disse...

Minha Amiga,
No fundo de quantos copos estão mágoas e alegrias, reflexos de almas e pedaços de vida...

Bjs
sniqper

Brain disse...

Maria José,

Simplesmente: Fantástico!
Adorei!

Beijo.

Idiota disse...

A vida � feita de pequenos quase nadas...
e depois...
Resta-nos... "pensar que possa ter abandonado o copo e descansado."

Digo eu... bem foi o q senti ao ler-te.

Raquel Branco (Putty Cat) disse...

Excelente!

Deixo-te um beijo.

Anónimo disse...

"(...)longe da música, distantes da gente, perto de si, apenas."

e sabe tão bem quando somos só nós e a noite.

beijo

ÞrincessFaßiana disse...

Os nadas das nossas vidas, fazem o todo que ela representa .. e é nos pequenos nadas que vamos buscar as grandes emoçoes:)
Bjo Fabi ***

Sleeping Angel disse...

Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver!

jumpman disse...

Muitas vezes esse aperto no ombro é o suficiente para fazer alguém erguer-se e assim descansar a alma.

***

Angell disse...

Um olhar perdido; focado num objecto, ou em nada. Onde os pensamentos dominam por completo; e fica ausente de tudo ao seu redor!

Por vezes há alturas em que; os pensamentos falam mais alto. Em que procuramos o sossego para nos encontrarmos. Ou a vida embrulha-nos em neles.

Por vezes, um toque, um apero de ombro é suficiente para voltarmos á realidade e ganharmos um novo folego...

Bjs!