11 de novembro de 2007

Do silêncio ao som que vagueia errante

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Estava ainda assim meio escuro, como que se o vento que soprara toda a noite sem cessar, tivesse afastado o Sol da minha casa. Mas já não se ouvia qualquer uivo lá fora, nem as folhas da árvore maior batiam na janela ali ao pé. Devia então estar quase a ser dia e não tardaria a chegar a nova manhã. Mesmo assim levantei-me, calcei os chinelos azuis, enrolei-me no roupão colorido e segui pelo corredor comprido, iluminado pelas luzes trémulas que mostram o caminho na noite.
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Não levava nada de concreto (nem de vago) no pensamento, caminhando pela força do hábito. Também por ela dei por mim envolta no calor da água fumegante e com cheiro a côco. E depois alimentando o corpo com torradas acabadas de fazer e leite quente, sentada numa cadeira perto do antigo fogão de lenha, ainda frio e sem vida pelo falta de gelo lá fora. Ali fiquei um tempo que não sei dizer em minutos. Até que me pareceu que afinal já era dia outra vez. Gente começaria a acordar, novos aromas dançariam no ar, vozes erguer-se-iam a pouco e pouco do sono agora findo.
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Daquela cadeira mudei-me para o cadeirão perto da varanda sobranceira ao lago. Só isso.
Um pouco de música vinha de mansinho, por entre os espaços do ar que respirava, do sótão onde alguém procurava livros perdidos ao som de acordes de muitas cores.
Vi chegarem pássaros de Inverno, o gato preto da quinta que procurava o calor de um dia sem chuva, o cão grande regressando da ronda nocturna.
Lembrei-me de ti, como quando adormeci, vencida pela exaustão na madrugada, e acordei sem saber porquê.
E mais nada.
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As horas passam por elas. Ao ritmo que bem entenderem. Não lhes vou pedir que se apressem ou atrasem porquanto enamoradas pelo instante.
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4 comentários:

jumpman disse...

A passagem das horas entre a escuridão que acontece lá fora e a luz do dia que se perfila no horizonte.
Uma luz diferente, talvez também ela ainda afectada pelo negro da noite.

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Alma Nova ® disse...

As horas do amanhecer podem ter tanto de magia como de solidão...assim o irá ditar o estado da nossa alma, mas são sempre horas de uma beleza única ao anunciar o nascimento de um novo dia. E, amiga, as horas passam num ritmo único que é o seu, mesmo quando a nós nos parece que elas se apressam ou se atrasam consoante nos trazem alegrias ou infelicidades...
A relatividade do tempo apenas existe na nossa cabeça.

not me disse...

Na solidão as horas nem existem, seja esta solidão boa ou má... É mais um dos frutos que colocam na cesta da nossa imaginação, mais uma forma de nos impedir de saborear o envolvente, os sabores e dissabores! E o tempo nunca vai deixar de passar!!! hunf
;)

Anónimo disse...

Minha Amiga...
Já sabes o que penso de Ti e da tua forma de escrever, leio com um prazer imenso o que transmites, uma mescla de situações, de descrições, de sentimentos e conclusões, que só posso dizer, gosto de te ler.

Ando meio ausente dos comentários amiga, mas não por preguiça, sim porque a Vida anda a testar a minha paciência, mas acho que se vai dar mal.