3 de novembro de 2007

Palavra única

Caído cá em casa, Outubro '07



Gente alguma que escreva, afasta o berço das letras da emçoão que a invada. Gente alguma conseguirá libertar as frases que crescem dentro de si, sem que levem um cunho seu, muitos dirão que, por vezes, invisível. Não há gente que o faça. Não me mintam. Não há.
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Palavras eternizadas pela escrita, moldadas ao papel que as abraça; esse refúgio que me abre as portas do seu recanto solitário, onde correm lágrimas de agonia e o peito se torna demasiado pequeno para conter o coração que sangra. O refúgio que quis encher de folhas soltas e pensamentos nascidos ao sabor da dor. O refúgio que levaria a minha perdição de agora, ao fim dos tempos.
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Tudo, porque, no fundo, o que se faz quando a mutilação da carne e do espírito da pessoa que nos faz crescer e nada deixa ao acaso quando lembra que somos nós a razão da sua alegria, nos dói como se um naco real de nós próprios tivesse sido arrancado sem piedade, distanciando o sorriso da serenidade? O que nos resta, pobres diabos? E que se pode fazer?
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Sim, o quê?
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Sentir apenas esse grito emudecido, que estilhaça devagarinho, com a precisão da águia, cada recanto de nós.
Secar as lágrimas deslizantes no rosto que temos já inexpressivo, deixando-se sulcar pelos finos fios de água nascidos de olhos já imensamente pequeninos com dor; aquela que não passa e que veio pelo laço inexplicável que nos une a uma pessoa boa. Ela, que ainda tenta esboçar um sorriso.
Estar ao seu pé e não não deixar que se sinta sozinha.
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Aguardando que o dia em que se chegue mais próximo do entedimento do porquê. O momento da percepção enevoada da razão da injustiça.
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Questionando até lá, na tristeza que se torna palavra única para descrição.
Vivendo uma vida que já não interessa, de olhos postos no preservar do sorriso que lhe vimos ainda há pouco ao acordar e pedir-nos ajuda.
Abafando o choro imenso que a noite relembra, lutando contra o medo de adormecer e o terror de acordar.
Por vezes eternizando palavras na escrita.
Outras buscando o abraço que ainda nos aguenta à tona.
Sempre perguntando porquê.
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6 comentários:

Anónimo disse...

Sempre perguntando porquê...
Minha amiga será esse o "remédio" que nos pode aliviar as dores, os temores de um acordar com piores horrores que os anteriores...?
Quando uma criança, na sua inocência, com a mente ainda não contaminada pelas falsas regras de educação social, nos pergunta porquê... Está simplesmente a querer entender, a tentar saber a razão do que ouviu ou simplesmente do que lhe mandaram fazer. Porquê, pergunto eu, o perder essa simples palavra no decorrer da nossa vida. Sem ela acabamos por automatizar tantas acções, deixamos parte da nossa humanidade esquecida, limitando a nossa existência por vezes a fazer o que sabemos que os outros acham corecto, e a nossa opinião será que não conta?

Alma Nova ® disse...

Sempre tantos porquês, tantas perguntas sem resposta...mas que nos empurram no caminho, vivo e desperto, de sermos nós mesmos.
E neste "berço das letras" eternizam-se todos esses sentires e emoções, vive-se a vida presente e luta-se para que ela sempre valha a pena...E aquele abraço que nos acolhe dá-nos força quando pensamos já não resistir...

Idiota disse...

No talento de quem escreve não há nada q não grite...

Oliver Pickwick disse...

Olá, estou de volta para ler os novos textos, por sinal fiz até um destaque: "...Abafando o choro imenso que a noite relembra, lutando contra o medo de adormecer e o terror de acordar..."
Suas impressões e sensibilidade continuam cada vez mais apuradas.
Tenha uma ótima semana!

Delfim Peixoto disse...

Por vezes eternizando palavras na escrita.
Outras buscando o abraço que ainda nos aguenta à tona.
Sempre perguntando porquê.


E as tuas palavras serão eternas...
Nunca deixes de perguntar porquê; aprender até morrer faz com que a Vidaseja uma descoberta diária
bj

jumpman disse...

Sempre perguntado porquê. Na busca incessante de uma razão que tarda a chegar e que atormenta a mente e corpo.

"Outras buscando o abraço que ainda nos aguenta à tona."

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