A vida da gente é tão curta, tão imprevisível no seu decorrer e ainda mais no seu fim, tão inesperada nos encontros e nas despedidas que ficam por acontecer. É uma vida onde se contam histórias, escutam melodias que tocam o coração, passam dias na companhia dos vizinhos de sempre, sonham ambições do tamanho deste mundo e de um outro aqui ao pé. Um tempo passado de olhos abertos caminhando ora sozinho, ora com companheiros de viagem que estendem um braço quando as pedras no trilho estreito fazem este corpo tropeçar, vacilar, quase cair.
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A vida da gente é tanto que não lhe chega o tempo para se descrever e dizer o que pensa de si própria. E então ficamos nós como que encarregues de, num instante de sossego, olhar para tudo quanto é e contar depois a quem passa. Um bocadinho de cada vez. Compondo a lenda da vida da gente.
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Essa vida que se esfuma num estalar de dedos por ordem desconhecida, dela ficando a memória do que foi e como o seu viajante a coloriu.
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A vida que ganha e perde sentido num momento de viragem, se esbate nos contornos ao bater dos sinos e termina abruptamente como começou.
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A mesma que me diz agora o quão egoístas podemos ser, chorando sobre o nosso leite derramado na chávena de porcelana fina, mesquinhos e pequeninos nas nossas birras e desejos de perfeição... quando o simples respirar pode estar a ser negado ao nosso lado.
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.Amaldiçoada esta mania das grandezas quando já se tem tudo para ser muito mais do que tantos e tantos ao redor, ela que traz as lágrimas ao rosto quando deveriam ser sorrisos rasgados. Sim, maldita seja a tristeza ensimesmada que só acorda para a realidade quando leva uma bofetada do dia de agora e, felizmente, ao menos, vê como realmente triste pode estar um coração ao pé de si.
.Senti o abanão do real que me circunda. E apenas a revolta comigo me encheu o peito. Pelo egoísmo do querer, pelo esquecer da benção que tinha. Sou humana. Não esqueço a minha desilusão e tristeza. Mas não posso deixar em segundo plano os corpos que sofrem também. E talvez muito mais. Precisando de um abraço.
Um olhar.
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9 comentários:
Será que a vida é curta minha amiga? Ou somos nós que por vezes encurtamos a sua duração?
Tantos já foram os dias que eu perdi por pura parvoice, mas por outro lado é essa parte que nos faz escrever o que acabaste de dizer...
The Real World
Pois é, minha amiga, a vida tem o tempo certo...quando no seu decorrer alcançamos o patamar que alcançaste, olhar, ver, sentir e partilhar. Os teus sentires não deixam de existir, mas aprender a realidade que nos cerca é a maneira de lhes dar a sua dimensão.
É bom descobrir coisas, Maria José. Ainda mais coisas boas como a que vislumbrei agora, após a leitura deste post. Percebi a real dimensão do seu coração, repleto de sentimentos nobres, como por exemplo, o sentir pelo bem estar coletivo, ou a ausência deste, tão frequente nessas ilhas de vidas incansáveis em olharem eternamente para o próprio umbigo, e cercadas, ainda, por mares de egoísmo.
É prazeroso e salutar, dispor da sua amizade.
Um beijo, e tenha o melhor dos fins de semana!
A vida é como uma atafona, gira sempre no mesmo sentido...
Quantas luas passaram sobre a tua cabeça? Porque não vês que que sabe olhar o teu interior...
Doce beijo
ao acaso vim até aqui. a palavra que me ocorre depois de ler-te é "volúvel". flutuação da alma, na classificação de Spinoza.
escreves belissimamente. tem cuidado contigo.
Passei.
Li.
Senti.
CONCORDEI!
(Só podia...)
Beijo.
Ter tudo nunca chega...
Gostei muito, já sabes que sou um fã dos teus textos ihih...
Adorei o novo visual... :D
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E a vida da gente muitas vezes sofre abanões que abalam toda uma fundação.
Especialmente quando esse abanão chega sem se dar conta e tira algo da vida da gente, assim sem apelo nem agravo.
Deixando simplesmente uma lágrima que brota por dentro e teima em não desaparecer.
É assim a vida da gente.
simplesmente...delicíoso ;)
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