29 de agosto de 2007

Nova mensagem, vinda de ?

Longe, mas também com uma proximidade incrível, porquanto nascida, da confusão e desalento da incerteza do ser e poder, adivinha-se a jamais perdida, se bem que por vezes abafada necessidade de deixar correr tinta; de dar corpo a palavras vindas de mundos irreais por força deste que se palpa a todo o instante e, só por ele, feliz ou infelizmente, passíveis de existir.
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Agora, que a frieza do tempo passado se impõe sobre os dias vacilantes, a mesma dor tem contornos diferentes. Não mais rombos e inofensivos, posto que, na essência, perdura no âmago do ser que era noutros instantes desaparecidos, para sempre. Talvez, isso sim, apenas contornos mais nítidos seja a descrição mais real.
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Agora, continuo dizendo, as mãos cedem de novo ao imperativo maior que as regeu desde que a memória se instalou, desfolhando folhas brancas de letras, sentindo o toque suave mas firme e único da caneta de sempre. Procurando tão-somente contar as histórias inacabadas de personagens de múltiplos rostos e feitos, ou de tantas e tantas invenções da imaginação educada na inteligência de um mundo nem sempre percebido.
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Perto, mas sem dúvida por vezes longe da realidade verdadeira e estranha que fere a vista, cantos de ideias e emoções assaltam a racionalidade e ganham vida em instantes de refúgio noutras paragens do pensamento fugidio. E desenham assim riscos e pintas em cadernos e folhas soltas, perdidas se o acaso as levar ao calor do fogo ou sabor do vento.
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Aqui, enfim, chegou outra vez a imaginação sentida. Pronta para argumentos anedóticos, colunas sarcásticas, romances a continuar na tua imaginação; nesse lugar onde tudo é possível, se o corpo a deixar vaguear um bocadinho. Nem que apenas, um bocadinho.
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27 de agosto de 2007

Evasão de mim

Na Costa Atlântica, Agosto '07
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Depois de chegar, parti. Fui de novo para longe deste lugar comum salpicado de sonos mal dormidos noutros dias, mas ainda perto da lembrança.
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De novo fiz a mala e rumei às areias de muitas cores, rios tímidos e encostas verde-escuras, respirando calma e tempo. Tempo... como já não encontrava há muito; simples minutos em silêncio puro, sentindo as palavras crescer e as frases ganhar forma. Porque é assim, quantas vezes vindo do nada mais insignificante, que a essência das narrações surge, para um dia ser perfume.
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E aí voltei a olhar o espelho, vendo um pouco mais longe a aura negra e carregada que me pesava sobre os ombros, mas sobretudo me deixava de rastos as ideias. Vi-a um pouco mais distante deste ser. Longe da proximidade que sufocava. Há muito.
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Senti a pele quente ao Sol e vi também a chuva forte na noite escura da montanha, como que mostrando que os impossíveis existem.
Adormeci ao som de uma voz inconfundível no escuro, rodeada num abraço que me torna mais leve e deixa voar para o mundo dos sonhos. E acordei com um sorriso naquele mesmo abraço cujo perfume perdura em mim.
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Depois de partir duas vezes e de outras tantas ter regressado, fico agora por aqui. Com as recordações. Até sempre. Até um dia.

22 de agosto de 2007

Recordações

WWII American Cemetery, Normandy


Vagueei de novo por cidades e vilas, praias e campos. Ao Sol tímido, sob chuva fria ou sentindo na cara o vento agreste do Norte, perdi-me outra vez em terras (quase fora) deste mundo repletas de histórias por contar.

Deixei correr a tinta nalguns instantes, como que recuperando parte da minha existência.

Voltei ao sossego de lugares indescritíveis e à convivência de culturas díspares (mas complementares) das cidades grandes e das grandes cidades. Àquela mescla que alimenta esta cabeça sequiosa por mais. Sempre um pouco mais de diferença e conhecimento.

Reencontrei a coexistência de raças e crenças, mostrando a quem não acredita, que é possível sorrirem em conjunto e sofrerem em uníssono.

10 de agosto de 2007

Dentro em pouco


Vou desaparecer do lugar de aqui por um tempo. Voando sem asas minhas, espero chegar à morada dos castelos e paisagens de outras eras, esquecidas no tempo, vivas na memória das leituras, do prazer de conhecer o que foi e permitiu que o hoje seja assim.

Vou rumar a horas idas.
E depois regresso. Com mais imagens, cheiros, texturas e paladares.
Regresso a esta existência.
Depois de ter partido de uma vivência diferente por instantes tornada real e... merecedora de silêncio. E cumplicidade.
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"Não sou capaz de descrever como tal aconteceu, nem que circunstâncias nos levaram até ali, mas o momento ficou-me para sempre gravado na memória. Descrevê-lo é revivê-lo, embora jamais permita que alguém o sinta da mesma maneira. (...) Há mundos que ficam fora do mundo dos comuns por estarem fora do conhecimento vivido pelo conjunto dos cinco sentidos."
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[In Um Minuto de Silêncio]

4 de agosto de 2007

No banco de café

Simplesmente está para lá do que possas querer. Está muito além dos dias que passas olhando para um céu sem fim, das noites que me dizes serem frias e sem sentido, das madrugadas em que, errante, te passeias sem rumo nas ruas estreitas da cidade escura, sem vida; ou sem a vida que queres que tenha ou sem aquela que conheces e não temes. Está tão fora o teu entendimento que nem tão-pouco arriscaria pensar que possas compreender que não sabes do que se trata. Já o tentei fazer. Imaginar. Fazer-me crer que poderias almejar esse saber. Ingénua forma de pensar essa que me tolheu o verdadeiro pensamento! Como me enganei! Como pensei que as subtilezas mais gritantes pudessem ser-te também evidentes! Só agora, neste banco de café, paredes meias com uma grande janela sobraceira à cidade em reboliço, dou a mão à palmatória e decido decididamente e sem dúvidas, que sei muito mais dessa tua ignorância do que deste natural fumegar que se eleva da minha chávena, pendente entre dois dedos. E se assim é, para quê teimar? Insistir em quê? Em ser "não exactamente aquilo que queria"? (...) Vai ser de rompante. De enfiada, como diz o puto lá da rua. Fácil, difícil, doloroso, aliviante. Um misto de tudo, quem sabe. Ou mesmo nada disso. E então apenas o fruto natural de uma necessidade inexplicável, que deixará marcas de sangue um pouco por todos e cada um dos caminhos que for trilhando no teu encalce. (...)

Recuperado do caderno, Agosto/'06

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Julho/'06, Foz do Porto