9 de janeiro de 2008

Freak show

Andava e andava, por ali. Vagueando ao sabor do vento que ondulava o tapete verde, macio, fofo, matizado pelo Sol caprichoso, ora escurecendo um recanto de árvore no planalto, ora fechando-lhe os olhos pelo reflexo nas folhas verdes da vegetação rasteira. Caminhava de pauzito na mão, saltitando sabia lá bem porquê e não imaginando eu sequer o mais insignificante dos motivos. Aninhava-se aqui e além. Talvez tivesse tropeçado no caminho de um caracol. Seria antes um trevo de quatro folhas, para colocar entre páginas do mais pesado dos livros lá de casa do tio estudioso das coisas do céu e das estrelas? Não sei. À distância dos binóculos, os pormenores fugiam sob a falsa esperança trazida pela proximidade de um espaço, no fundo, longe. Talvez por isso tenha pousado essas lentes na mesinha, deixando o passeio ou vagueio de quem não sabia que nome tinha, o que fazia à chegada da noite ou que livro folheara pela primeira vez. E assim quase esqueci o que passara minutos observando, sei lá bem porquê!
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O que havia na memória a acontecer, era um frio estranho que cravava pregos enferrujados, devagar, nas minhas costas. Uma espécie de chuva espessa deslizava por entre cada um deles, chegando ao chão e queimando a madeira. Mas na minha pele nem um rasto de fogo apagado. Nada.
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Era uma falta de tudo e nada, que me entorpecia por completo. Sem vontade para fazer. Sem vontade de querer. Sem querer saber nem perder tempo sendo alguma coisa. Sem gostar de acontecer nem destino interessante para procurar. Sem sono que me chamasse ou almofada para deitar sobre o lençol.
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Porque era uma falta. De tudo e nada. Na proximidade da loucura. Distante de querer saber dos conselhos e opiniões. Calando. Sem vontade de falar. Nem entender.
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8 comentários:

Anónimo disse...

Na proximidade da loucura...
Será que existe de facto loucura, ou simplesmente pensamentos diferentes...
Atitudes e actos, que sentimos, que fazemos, são nossos, nascem no nosso Eu, os outros, esses se não entendem...
Quero lá saber, quero viver como gosto, se sou louco, então louco vou continuar...
Gostei...

Alma Nova ® disse...

Andando, andando, ao vento, ao sol...
Caminhando ao sabor da vida e do que quer saborear.
Loucura? Talvez...Mas, provavelmente, Feliz. Louco é somente quem não sabe viver...

O Profeta disse...

Às vezes aconchegamo-nos num manto de silêncio...


Ergui-me ao vento na tua procura
Fundi um abraço com o sol da tua ternura
Modelei o amor com as palavras mais belas
Curso de errante espírito na tua procura

Porque o pensamento é voo de milhafre
Aprisionado em gaiola de palavras
O infinito e o incomensurável
Volto ao encontro das tuas profundas mágoas

Bom fim de semana


Mágico beijo

Fábio Vanzo disse...

"A medida sendo a falta, seja lá qual for a falta."

rita rente disse...

o que é nada?

jumpman disse...

Inundar a mente com tudo, para logo de seguida inundá-la com nada.
Vivendo assim, lado a lado com o que muitos poderão chamar de insanidade.
E outros poderão simplesmente chamar de viver.

uivomania disse...

A vida, é pura vanidade. Quanto ao mais (loucura incluida), é tudo relativo.
Por isso, a Terra já foi o centro do Universo. Por isso, a "Santa Inquisição" e ninguém mais saber da essência do Natal ou porque os macacos choram.
É do caos que emana a ordem e tudo está no seu lugar. Ou, a ajeitar-se...

Shelyak disse...

Sentir a falta de algo, e que não conseguimos definir, é triste, muito triste...
Sentir solidão no meio de uma multidão ou mesmo entre amigos/conhecidos é triste, muito triste...
Acordar sem saber para quê é triste, muito triste...
Há quem diga que o amor é como que uma varinha mágica que tudo consegue resolver...transformar um dia triste de chuva num de sol resplandescente...
Talvez sim... talvez seja verdade... só que para durar, o amor, é preciso muito, muito mesmo...
Beijinho que te deixo!