5 de janeiro de 2008

Rewritten

Às vezes desejo (e imagino dentro de mim como seria se assim fosse, real, não apenas uma estranha vontade de) que mundo não existisse. Não para esquecer as mágoas da vida, as dores da sobrevivência, as tristezas do passado; nem para abreviar o caminho até ao futuro, às cores da existência que há-de ser, aos sorrisos ainda por nascer; muito menos para ser outro alguém num espaço sem lugar. Nada disso. Apenas para adormecer suspensa pela luz das estrelas, aconchegada pelo pó dos cometas, embalada pelo silêncio.
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Talvez ao longe sentisse uma presença. Um abraço longínquo. Um perfume perdido e achado na noite sem fim.
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De alguém dormindo sobre nuvens errantes. Ou ainda vigilante e perscrutando o infinito; com olhos de águia e coração sussurrante.
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Saberia que fui eu que desejei que não houvesse mundo(s)?
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3 comentários:

Oliver Pickwick disse...

"E por acaso cumprimento os animais. Aliás, acabam por retribuir-me mais do que muita gente com quem me cruzo"
Às vezes, querida Maria, também faço isso. Porém, às escondidas, para que não pensem que sou algum tipo de louco. Mas já que você, uma garota inteligente e sensível, afirma de público esta prática, não sou eu que vou guardar segredo. Doravante, os cumprimentarei abertamente.

Magnífico! Magnífico, esse texto! Filosofas com a graça da linguagem dos poetas, sem rigores cartesianos!
Um beijo, e tenha um ótimo fim de semana!

Alma Nova ® disse...

Adormecer assim deve ser parecido com dormir embalada no paraíso! Às vezes também gostava que não houvesse mundo...e de ter a certeza que esse alguém saberia ter sido meu esse desejo.

jumpman disse...

Talvez perscrutando o infinito. E desejando poder também adormecer assim, nesse lugar onde o espaço não tem nome, o silêncio não é constrangedor e a luz ilumina e aquece os corpos que ousam entrar em tal espaço.

Vigilante, como que velando tal sono tranquilo. E quem sabe, tornando um abraço longínquo, num próximo e bem real.