8 de fevereiro de 2008

Mundos

Vou pousar a caneta. Deixar de lado as loucuras pensadas racionalmente num rasgo de insanidade qualquer. As letras escapam das margens e fogem; correm pelo papel, galgam o lápis esquecido ali ao pé e correm rumo a um desejo qualquer que não me contaram. Anseio que apenas elas conhecem no fundo de si. Que vão. Que encontrem. Que vivam noutras linhas e cadernos. Boa viagem. Com pouco para contar e nesse imenso que então poderia divagar dissimulado em histórias fantásticas, pouso a caneta. Ouço o sono ao longe, alucinação, delírio esquizoide. Nada mais. Lembrança vaga. Ténue. Inconstante com o passar incansável dos dias e quase arquivada sem retorno. Vejo sem cor a calma, miragem neurótica fugaz. Impalpável. Ausente. E não me apetece pegar na caneta. Acho, não, certamente alguém acordou a alguns passos daqui. Apenas para beber água. Nada mais. Faço silêncio ainda maior, para não ouvir a minha respiração e poder retornar ao lençol que deixou para trás, até que a manhã chegue. Não me iria abrir os dedos, chamando assim pela caneta que pousei, portanto que vá, durma e se entregue ao descanso do ser e sentir e pensar. Boa noite. Velo pelo seu cerrar de pálpebras no recato do seu pedacinho de mundo secreto. Entretanto vejo o ponteiro rodar. Outros sonos hão-de estar dormindo. A minha caneta também. Ali, deitada sobre a madeira abrilhantada pelo unguento de cedro, manjar dos deuses que cuida da sua longevidade. Onde a deixei. Já sem ideias; daquelas que se imaginam e das outras. Aquelas que criam a realidade.
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10 comentários:

ivone disse...

melhores tintas virão correr por aqui
e eu para as ler.

mas nesta tua escrita intimista e sensível resta_me o melhor que me podes dar agora

Shelyak disse...

Montanhas e vales... é assim nestas linhas que a nossa vida vai seguindo os seus altos e baixos...
E enquanto as percorremos, vamos experimentando esta tão excitante vida...
Beijinho e um belíssimo fim de semana :)

jumpman disse...

Até ao dia que a caneta volte a chamar e a mente queira transparecer para um papel tudo o que atravessa um pensamento brilhante.

Anónimo disse...

Deitada sobre o seu leito perfumado, a caneta espera pela mão que a guia, que a leva a percorrer estradas de palavras, em viagens de emoções e sentimentos...

Idiota disse...

Sem sono, com sono...
Histórias...
Apetites...
Devaneios...


Bem pelo menos, foi o que me ficou...

Oliver Pickwick disse...

Pousar por certo tempo a caneta é um ato estratégico e sábio. Não há vitória e nem alegrias sem recuos.
Beijos!

Divinius disse...

Gostei de ler:)
A LUZ QUE TE DEIXO É DA COR DA MINHA VIDA...)

Chris disse...

Porque a caneta por vezes precisa de descanso... Porém não se quer esquecida...
Não pares de escrever..
adorei o texto...

Beijo Grande

Alma Nova ® disse...

Pousa a caneta, deixa-a descansar e vogar...no mar dos sentimentos que te animam, na sombra dos raios de sol que te aquecem...até que de novo te dê vontade de lhe pegares e a deixares trazer-nos as tuas palavras de vida.

O Profeta disse...

A melodia do teu canto reverbera no tempo
A lonjura é o momento do abraço
O teu sorriso chegou ao meu silêncio
Solta palavra doce no espaço

Uma torrente de emoções para ti


Um mágico fim de semana


Doce beijo