Como é que se desiste de uma vida? Primeiro chora-se baixinho, por dentro, antes do sono, quando mais ninguém vem bater à porta e os olhos vermelhos ficam pequeninos e dóem. Depois percebe-se porquê. E cai-se na banalidade dos dias, dos meses, dos anos. As lágrimas secam e as horas passam no relógio para lugar nenhum. Um dia compreende-se para lá da percepção. Relembram-se os nadas de sempre, as agulhas que ainda ferem, os dizeres que vieram e emudeceram as poucas palavras que se gostaria de ter deixado no ar. E, oh nesse dia e para sempre, fica um vazio tão grande. Vêm choros abafados e correntes de água salgada que não brotam aos soluços, mas puramente escorrem sem travão. Espontaneamente, livremente, inadvertidamente. E questiona-se cá dentro, como se desiste de uma vida? De gente? De tantos lugares? De coisa nenhuma?
Sem resposta. Sem dúvida nem certeza. Com o desejo de abandonar tudo. Começando... sabe-se lá bem por onde. Desejando... que fosse pelos corredores desprovidos de sentido, horas imensas passadas em sobressalto, minutos escassos em mesas frias onde se engolem migalhas no silêncio da solidão. Desesperando por nada disto de agora e e de ontem se querer, por não haver ouvidos amigos, nem família que... não se escreve esta parte. Não vale a pena.
Como se desiste sem poder?
Não acontece.
E fica tudo na mesma.
Na mesma tristeza.
Ou até um dia em que se esqueça a pergunta "como".
E aconteça simplesmente.
Desistir.
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5 comentários:
Este texto tem tanto qeu se lhe diga que as minha spalavras escasseiam... só sei que há uma profunda tristeza associada à compreensão de que se perdeu uma vida inteira na contagem das migalhas..
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Errantes sentires percorrem
Este corpo nu de calor
Queda-se a vontade ao vento
Neste deserto de verde amor
Ai este grito contido
É lava rubra em minha garganta
Pio de pássaro preso às penas
Uma reza a fugir de alma santa
Boas férias
Mágico beijo
Pedindo antecipadas desculpas pela “invasão” e alguma usurpação de espaço, gostaríamos de deixar o convite para uma visita a este Espaço que irá agitar as águas da Passividade Portuguesa...
Desistir.. Depois de tudo tentado e voltado a tentar..
Uma das piores sensações que se pode ter..
simplesmente FANTÁSTICO!!
beijo
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