Há um saco muito grande, com fundo escuro, bafiento e bolorento, que guarda as coisas estranhas e sem sentido, oferecendo-lhes morada longe da luz. Uma espécie de baú de pano, húmido e frio, armário sem paredes, quarto escuro sem chão. E está no canto norte do meu quarto. Por fora, ainda com cor e adivinhando-se um nome pintado com tinta permanente, desbotada mas não envelhecida. Por dentro, maior do que o espaço que ocupa. Entre o fora e o dentro, a essência dos fantasmas presos entre dois mundos, bradando numa língua muito e só sua, quase sussuros aos ouvidos distantes da gente; gritando histórias de dor e passagens de tempos que não sei onde estão.
..
Um saco de tecido espesso.
Ali deixado. Quantas vezes aberto e alimentado.
De quê?
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Lágrimas de tristeza sincera,
desorientação,
interrogação,
incerteza,
desconhecimento. De si. De tudo. Do nada que avança.
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Um saco que não se vê quando a gente se acerca da janela, se aproxima da luz ténue do canto norte ou se deita sobre o tapete macio numa noite embalada pela música do céu.
E que está ali.
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Vês?
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.
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Não.
..
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Só eu.
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