29 de setembro de 2006

Hide and seek

Goldfrapp, Strict Machine


"Acordaste outra vez com aquela vontade esquisita? Não, não me digas que sim!!! Ou diz, diz que sim!!! Vamos lá então! Já começava a sentir falta desse ímpeto!!! Agora é que vai ser!!! O quê? Não é só isso? Oh!! Diz lá... Não me deixes em pulgas deste lado da linha!!! Quê?!?! Não pode! Não acredito!! Vá lá..."

Também te escondes atrás do telefone?

Ou não será uma fuga?

28 de setembro de 2006

Ao som de velas e luz de vozes

Diana Krall, Under My Skin, live


Uma voz que há poucos instantes chamou por mim. Dizendo baixinho "vá lá, lembras-te demasiado bem do arrepio de me sentires a escassos metros. Sente-me de novo. Recorda o som que te fez e faz sonhar. Recorda as letras que te falam de dentro para fora, diluindo a tristeza, perpetuando a dor quando não há como apagá-la, aliviando o peso de uma lágrima fugidia. Vá lá. Ouve-me. Sente-me. Aqui. Agora. Como se fosse a primeira vez. Ou como se, de novo, estivesses recostada e envolta em música naquela sala repleta de emoções contraditórias e gente tão igual na sua diferença inegável."

Before college

No Doubt, Don't Speak, live


Este tempo reportou-me a outro tempo. Um tempo também cinzento e por vezes chuvoso, preenchendo o tempo de dias que hoje relembrei ao reescutar músicas há tanto longe da recordação. Um tempo tipicamente marcado pela nebulina, pelo vento soprando sem pedir licença, pelo mar revolto estivesse o corpo a viver Verão ou Inverno.

Um tempo de vivências diferentes, onde os sabores se misturavam e os odores da estrada pareciam tão diferentes dos que sentiamos em casa. Um tempo onde crescemos a um ritmo próprio, ditado por nós e pela exigência de ter que ser alguém e não baixar os olhos.

Tempo de fins de tarde, findas as aulas, o estudo, ou um qualquer passeio na cidade, passados sobre a relva cuidada da imensa propriedade do colégio. Relva verde, ora fria, ora reflectindo os últimos raios de um Sol sempre tímido.

Conversando ou dizendo nada; olhando os corvos em voo sobre a costa ou vendo nada mais do que o céu sobranceiro e imenso... imaginando que, longe, alguém amigo estaria sob o mesmo manto azul.

Tempo de sorrisos e lágrimas noutra língua. Tempo imortalizado por piadas e dissertações pseudo-importantes espantando a plateia de projectos de gente envergando chocolates [como podia ser pouco apelativa a sobremesa às vezes...].

Tempo vivido numa ilha... dormindo, despertando, respirando, estudando, sentindo, caminhando com coração luso sobre lajes britânicas.

Tempo, como todos os tempos, que um som faz re-sentir. Tempo, como todos os tempos, que reaviva sorrisos e recorda mágoas pelo ressurgir de um acorde. É este o poder desta música [um dos...].

27 de setembro de 2006

A posteriori


Where are you? I've been sitting on the moon...

Pieces of a great song...


[SItting on The Moon, A Posteriori, Enigma]

25 de setembro de 2006

Sem intuito de ser percebido


Tenho a cabeça cheia. Tão repleta de tudo e de tão pouco.
O coração bate com uma alegria estranha, um sorriso discreto com pena de uma dia se apagar, de ter que dizer adeus [embora acreditando que muito, senão mesmo tudo, do que o faz esboçar esse trejeito, para sempre permanecerá gravado a fogo e cravado a ferros]... tão apertado então que chega a doer... mesmo tendo-me ensinado a ciência que, afinal, talvez não seja sensível a esse ponto.

Obrigada.
Ouço baixinho uma voz vinda do nada.
Um timbre nascido entre pensamentos sem razão e razões sem motivo.

Porque basta esse agradecimento.
Uma gratidão e um respeito com início.

Porém jamais com fim [sentido].

24 de setembro de 2006

Chuviscos


Skunk Anansie - Secretly

Sair.
Sentir uma chuva ainda quente, lembrança remota de outras paragens, outros dias.
Abrir os ouvidos e respirar todas as cores de um Outono que podia ser igual a tantos outros. Porém tão diferente que me deixa a pensar… se haverá duas estações iguais em anos diferentes.

Sair assim.
Uns momentos.
Pensar apenas em chegar depressa ao próximo abrigo.

Entrar então.
Sacudir os pingos de chuva mais rebeldes, aconchegados no casaco e brilhando no cabelo desalinhado pelo vento matreiro. Deixar o corpo recostar-se no sofá imenso timidamente iluminado pelo antigo candeeiro de petróleo.

Acender a lareira?
Depois de dizer olá.

A quem esperava já por esta chegada.

23 de setembro de 2006

Directo e simples


"Paraste, porquê?"
.
.
.
Pela mesma razão que comecei.
Porque quis.

22 de setembro de 2006

Manhã com contornos escuros

Purple Rain

Azar. Não é para agradar. Nunca foi. Nada do que digo, faço ou penso.

E hoje, nesta manhã de Sol com cheiro e sabor a Outono, penso. Penso e penso e penso e chego a nenhuma conclusão. Sem sono, sem cansaço, sem distracção física, não me concentro. Tão decidida, tão empenhada e não me concentro. Uma hora, duas, três. Tudo na mesma. Insisto, não desisto. "Há dias assim." Mas não pode haver. Não pode. Porque o tempo passa. A tensão aumenta estupidamente e sem fundamento, arrisco dizer que virei a concluir.

Quero apenas o que sempre quis.

Ser eu. Com tudo quanto isso implica.

E como custa às vezes não ser de outra maneira. Mesmo que o não queira.

21 de setembro de 2006

Ao acordar da noite sem sono


Six Pence None The Richer - Don't dream it's over
Por nenhuma razão.
Sem olhar às palavras. Sem pensar no que dizem. Sem perceber de onde vêm.

19 de setembro de 2006

Viajando na sensação

Completamente diferente e tão único que descrever o sentimento que desperta é impossível. Não sei se pela saudade que deixou, muito menos se pela atracção que exerce só por estar na memória. Não sei se pela sensação de leveza que imprimia a cada movimento que tentasse desenhar sob o envolvente Sol quente e alto, muito menos se pelo desejo de perdição que nascia do mais recôndito dos quartos que a alma encerra, sem saber que um dia o construiu, até. Não sei se pelo aroma enebriante do vento nos momentos em que a rebeldia tomava conta da vastidão dourada, muito menos se pela recordação do silêncio. Não sei, enfim, porquê. Sei então pouco ou nada mesmo, daquele tanto que percorre ainda cada cerrar de olhos e lembrar. Sei apenas do desejo de voltar. De construir novas memórias sem sentido. Outras recordações sem explicação. Outros instantes de mágica viagem no tempo.
Nem que por um momento. Por uma fracção dos minutos que vemos passar sem sentido.
Sonho?
Talvez.
Um sonho insane de viver noutro lugar, noutro tempo, noutra realidade.
De ter um poder imenso.
Ou de tão-somente ficar ali.
Sentada.
Olhando.
Respirando.
Tocando.
Adormecendo sabendo do frio.
Desepertando sob o Sol quente.
No deserto.
O meu refúgio?

Inesquecível Saara. Fotografias de outros dias que lutam para recolocar o corpo noutro lugar.

16 de setembro de 2006

Old piece of paper

As palavras que se dizem, os gestos que nascem do nada, os olhares perdidos e penetrantes, os calafrios na madrugada, um tombar de pescoço nu. Um toque fino, lento, tacteante, quente, arrepiante. De dedos seguros em mão ondulante? E de lábios macios, gentilmente percorrendo a pele que os convida, aqui e além esquecendo que sequer pertencem a este mundo e tornando-se flechas de um qualquer mundo etéreo, arrebatadoras e absorvendo toda a vida que tocam.
Um rasgar de tudo e abrir de nada. Um momento de esquecimento.
Um perfume que se funde com cada fio de cabelo, recanto de pele ruborizada, roupa desnecessária. Um aroma que deixa de ter dono. Porquanto já não é de quem o trouxe . Mas de quem o roubou.


Porque, vídeo e música, falam baixinho ao meu ouvido

Aqui,

agora,

ao (re)escrever,

ao respirar.

Coldfinger - The Beauty of You

14 de setembro de 2006

Brilho

Metallica - The Unforgiven


Não ia voltar hoje.
Não ia regressar.
Não ia "ligar" outra vez o mundo virtual que me une e me afasta de tanto e de tanto pouco.
Não.
Até que um som e alguém vieram ao meu encontro. Nas suas poucas palavras e naquele olhar que jamais poderei definir [quiça por ter tanto de mim e outro punhado de coisas tão diferentes], dá-me um abraço cá dentro. Como que dizendo sou tu e para sempre terás um pouco de mim em ti. Aquele pouco que ninguém percebe de onde vem. E como nunca esmoreceu. Mas cresce.
E porque esta música me diz muito.
Não gosto, não me agrada esta vulgaridade de desatar numa descrição desenfreada dos sons que tocam cá dentro. Porém, há momentos estranhos. Instantes em que a música pede para que digamos que entrou em nós e é parte de nós.
Assim esta fez e faz. Hoje... e até um qualquer dia. No Paraíso. Ou no Inferno.
Für dich.
Mein freund.

No nevoeiro


Já sinto de novo o frio. Os dias passam, afinal, tão depressa e num ritmo tão seu que jamais poderei sequer perceber; quanto mais ousar abrandar. As semanas sucedem-se, o corpo envelhece sem misericórdia. Os meses encadeiam-se, ignoram os pedidos que lhes faço e a mente... crescerá?

«Pergunto a mim mesmo o que irei fazer ao Paraíso. Não é lugar que me interesse... Só lá moram padres velhos e velhos aleijados, manetas e gente vestida de romeiras gastas de velhas, de trapos, em suma. É para o Inferno que quero ir, porque no Inferno vivem os belos estudantes e os belos cavaleiros que morreram em guerras magníficas, sem contar com os nobres e os valentes guerreiros. E, depois, (...) não é para o Inferno que vão o ouro e o dinheiro? E onde estão, senão no Inferno, os tocadores de harpa, os jograis e os príncipes deste mundo?»
[Aucassin et Nicolette, Romance Medieval]

13 de setembro de 2006

What if

Coldplay, live from Hackney
'Cause sometimes I doubt that darkness always turns into light.

12 de setembro de 2006

Depois do [sono]


Acordei com um medo imenso. Um terror tão grande. Uma dor sem fim. Voltar a dormir não era solução; nem tão-pouco tinha sono para cerrar de novo as pálpebras e entrar na terra na ilusão sobre a realidade [passada, actual ou presumida]. E manter o corpo acordado assustava demais. Simplesmente estilhaçava cada pedaço de mim, na dúvida, na (in)certeza do que sabia.
Acordei com um medo imenso que não podia afastar de mim. Um terror tão grande que nevoeiro algum esconderia destes olhos. Uma dor sem fim e sem princípio, afinal. Voltar a dormir não afastaria a impotência de encontrar resposta. E manter o corpo acordado não parecia sustentável. Simplesmente fazia crescer um aperto no peito, na alma e na inteligência.
Acordei com um medo imenso, um terror tão grande e uma dor sem fim.
Não adormeci. Não acordei.
Fiquei na fronteira.
Olhei as tangerineiras através da grande janela, orvalhadas pela bruma da manhã nascente.
E continuei. Porque sabia o que queria.

11 de setembro de 2006

New old story


"- E o acompanhante. A menina já disse quem é?"
Em vez de vermelho de emoção, vergonha ou incerteza, fosse ela de corar e todos os pequenos vasinhos sob a sua pele gelada pelo frio do Inverno teriam, isso sim, ficado rubros de raiva e indignação. Julgar-se-á a pessoa por quem lhe dá o braço e lhe cede a passagem à entrada do salão? Pelo facto de se fazer acompanhar em mais uma noite invernosa apenas pelo seu vestido exclusivo e sapatinhos de cetim?
Aparentemente, sim.O olhar transfigura-se, o nariz contorce-se, os ombros encolhem-se e os lábios agitam-se ao escutar a resposta. Ao saber que não. A menina ainda não disse quem é. Tão-somente, porque não há quem apontar para o lugar.E menina será conduzida pelo motorista de há anos. Será ele quem lhe abrirá a porta e dará a mão para que saia do automóvel reluzente sob as luzes ambientes do jardim. A menina entrará pelo seu pé. Cumprimentará os anfitriões e seguirá, sem sombra, percorrendo os corredores ladeados por retratos, troféus de competições duvidosas e recordações de estadas em outra paragens. Ouvindo, ao longe, o burburinho já conhecido da orquestra convidada e de vozes que fazem conversa de ocasião ou, curiosamente, trocam saudações entre velhos amigos.
Passará os arcos e entrará no salão, observando.Vestidos deslizando. Todos diferentes, cada qual esculpido para aquele corpo. Adornados aqui e além por discretos brincos e fios brilhantes.
Fatos negros. Cuidadosamente escolhidos, distintos, movendo-se sobre o chão delicado de uma madeira impecavelmente suave.
E uma multidão imperceptível de compenetrados serventes.
Chegará então o anúncio de que jantar será servido no salão contíguo. A menina tomará então o seu lugar numa mesa sóbria e elegantemente adornada, ladeada por gente conhecida e caras novas. Serão servidos pratos exclusivamente nossos. Assim dita a exigência dos anfitriões. A animação continuará noite dentro do outro lado das portas da sala de jantar. A orquestra cessará os acordes quase inaudíveis com que presenteou os convidados nos largos minutos que permaneceram saboreando vinhos selectos e sobremesas agridoces.
Alguns optarão por respirar fundo no jardim de inverno, inalando o pólen quente de flores cuidadosamente mantidas na estação fria. Formar-se-ão grupos de velhos conhecidos. Quase sempre com número par de gente.A menina? Circulará um pouco. Responderá de quando em vez a interpelações já habituais. E dará a mesma resposta de tantas vezes. Passará algum tempo na grande varanda sobraceira ao jardim desenhado sob o céu escuro pré-primaveril. Olhando uma Lua incrivelmente branca, senhora da noite que empresta reflexos indescritíveis aos canteiros orvalhados.Regressará lá dentro, ao ambiente aquecido mas não abafado, não sabendo já bem quanto tempo passou afastada.
Estará então à sua espera, ao fundo da escadaria de pedra colorida por tonalidades quentes cedidas pelos candeeiros tradicionais, porta já aberta, o automóvel reluzente e o motorista de há anos. Que a ajudará a não enrugar o vestido.
Seguirá então pela marginal. Afinal, não pode regressar a casa por outro lugar senão lado a lado com o Atlântico e aquela Lua.Abrir-lhe-á novamente a porta e dirá, sempre, com um sorriso, um boa noite menina.Luzes ténues por toda a casa guiam-na.
Na antecâmara do quarto despirá o vestido. O tecido leve, algo ousado mas distintamente cortado, cai sobre o sofá. Ao seu lado, no chão aquecido, repousam, já sem vida, os negros sapatos de cetim. E sobre a mesinha, os brincos e a gargantilha discretos.Mergulha então num banho já preparado, algumas das suas velinhas preferidas tremelicando no escuro.
E depois? A menina recostar-se-á na cama aberta por alguém que sabia que a sua inquilina não tardaria, até que, talvez, os olhos se fechem.
"- E o acompanhante. A menina já disse quem é?" A menina ainda não disse quem é. Tão-somente, porque não há quem apontar para o lugar.
Porque o moskito "quis" ver outra vez o texto. A continuação? Hmmm, talvez, quem sabe.

10 de setembro de 2006

Antes de outras palavras

Bush - Letting the Cables Sleep

Porque gosto demais deste video.

Porque hoje este som voltou a entrar em mim sem pedir licença.

9 de setembro de 2006

Recuperado


Era sentir aquele perfume. O teu e o da noite, então primaveril mas ainda… ainda tão timidamente assumida. Vacilante, expectante. Perfumes dispersos num ar pesado imiscuído numa leveza intrigante, inexplicada mas quiçá explicável.
Mas era mais.

Era tocar as nuvens baixas a que arrisquei chamar nevoeiro desgarrado, orvalho perecível pairando ao nosso redor, húmido, penetrante.Era ouvir o silêncio ensurdecedor bradando aos ouvidos, bem perto, muito perto, porém sem me quebrar… ou sequer deixar vestígio da sua passagem tumultuosa. E escutar ruídos conhecidos e sem novidade. Ruídos, apenas.

Era ver os aromas inseparáveis no escuro e, no fundo, tão distintos; as incontáveis gotículas suaves, macias, imperceptíveis; e a mágica ausência de sons sob aqueles acordes…

Era, afinal, saborear tudo isto.
E foi muito?

Retórica…

Não. Tudo era pouco.

Razão? Porque tudo era muito, porquanto me apercebi dos pormenores, porém era tão-somente um momento. E os momentos são (irritantemente e) por definição (como os instantes) pequenos, fugazes. Mas não necessariamente pobres… E como prefiro então esta escassez! Este pouco!

Queres que volte à realidade. Pois. Dispersei muito. Acredito. Mas não me desculpo.

Foi muito?


Foi diferente.









Longe de ter sido escrito agora, longe ter sido pensado agora.
Já com meses de pó sobre as folhas amareladas pelo impiedoso passar do tempo no sótão.
Viu hoje luz deste espaço.
Valha isso o que valer.

8 de setembro de 2006

Happy when it rains? So what?

É tão engraçado pensar sem pensar em pensar, chegando a conclusões que o não são na verdade, porém tão reais que escapam ao soldado que guarda o que é definitivo. Admirar apenas um pensamento fugidio, ténue, evanescente, flutuando no ar que revolve as ideias e as emoções; um complexo conjunto de simples palavras estruturado por mestre sem face residente no interior de nós. E sentir, emocionar, percepcionar sem ver, que com todas as contrariedades, defeitos [ou questionáveis feitios], apertos de alma ou acontecimentos semelhantes [e há-os em ambundância], mesmo [sendo] assim, não diríamos quem me dera ser como tu.


7 de setembro de 2006

Breath of life



Uich gwennen na 'wanath ah na dhín.
An uich gwennen na ringyrn ambar hen.
Boe naid bain gwannathar,
Boe cuil ban firitha.
Boe naer gwannathach.

6 de setembro de 2006

Not greed




Há tanta, tanta coisa que gostava de ser.
Tanta, tanta coisa que quero ser.
Ambições? Uma mão cheia delas. Todas tão reluzentes, brilhantes, preciosas, magnificamente esculpidas. E que, tão verdadeiras como choradas, fazem finca pé face a quem quer que seja, sobrepondo-se ao óbvio, projectando-se num mundo impecavelmente construído, num lugar ainda assim com muitas pedras no caminho, é certo, porém simplesmente não disponível para trocas. Porque meu. Só meu. Sem porta para entrar nem abertura na rocha para sair.

4 de setembro de 2006

Reconhecimento

Esta lágrima que cresce sem água e não brota, não me perguntes por que persiste.
Porque não te saberia explicar.
Porque não compreenderias.

3 de setembro de 2006

Pontos e pontinhos no Tempo


Naqueles instantes em que cai sobre nós o peso da realidade, a chamada consciência do que somos [ou qualquer coisa desta espécie que consigam descrever de melhor forma], ficamos pregados ao chão. Incapazes de mover um dedo, de dizer uma palavra, de, até, abrir os olhos. E ver. Ver que ainda nos movíamos na ilusão, naquela pseudo-realidade que quisemos construir e onde nos movemos graciosamente até então.

Nesses instantes, somos arrebatados por um medo terrível da luz que parece irradiar por todos os vidros quebrados. Impotentes na fantasia, que coloria a realidade que camuflavamos [sem o saber, quero acreditar, embora seja difícil] e que, verdade das verdades, não sendo mais agradável, porquanto também ela desgastante e consumidora sôfrega e flagrante de nós, permitia que talvez pairassemos um pouco acima da real verdade.

Nesses instantes, ouvimos vozes conhecidas.


E são elas que nos rasgam em mil pedaços a fina cortina que separava aqueles dois mundos, fazendo-nos pôr de parte as sombras da caverna platónica. E encarar as figuras palpáveis.


Esses instantes não são invenção filosófica.
Existem mesmo.
Transtornam. Confundem. Decidem.


Decidem muito e sobre tanto que jamais poderia descrever em palavras simples e frases com sentido, o alcance que têm nas existências que páram momentaneamente para os deixar acontecer [impossível que é de os evitar, renegar, ultrapassar sem encarar].






Como é que sei?
Porque aconteceu comigo.

1 de setembro de 2006

Desfocado... ou como preferires



O que vês quando olhas?
Talvez o espelho.
Quiça vislumbres um pouco do reflexo.
Mas certamente não vês a realidade. Oh!, como está longe desses olhos tão abertos e que mais não percebem senão o desejo que lhes chega bem lá do fundo da emoção. Como está distante da mão que estendes, timidamente mas com tão grande confiança [em nada, afinal]. Como está longe.

Porém não vês.
Não sentes realmente a imagem que te vai rodeando.

É pena.



Mas não a vês.



Algum dia levantarás a cortina que agora te cega? Se tiveres força.


Sobretudo se quiseres. Porquanto a ilusão pode ser mais doce.