Gangsta's Paradise, Coolio
.
Gangsta's Paradise, Coolio
.
Walk On, U2
.
Não é mais fácil.
Não é mais alegre o despertar cada manhã. Sincera, honesta e verdadeiramente, não é e não há a mínima vontade de explicar, falar ou sequer gostar que a mágoa seja tão-pouco aceite, quanto mais percebida.
Cada despertar é agora um instante de transição, vazio do sentimento sem nome que pensava inseparável. Cada anoitecer e amanhecer transformam o que [e como] é visto, mas não o que está escondido sob um sorriso. Nesse lugar onde ninguém chega, repousa para sempre o inexplicável.
.
Hotel California live, The Eagles
Triste. Profundamente triste e sem palavras que expliquem sequer a mais ínfima parte da desilusão, do desmoronar do sonho,ambição, objectivo, alento, sei lá já bem o que era. Também não as vou procurar. Não vale a pena. Creio, que tal como o sono que não existe regressará com a exaustão, igualmente as palavras virão por necessidade; contudo, para sempre diferentes e jamais descrevendo este hoje que não acaba.
Tão-somente triste. Impotente, incapaz e certa de que jamais desaparecerá o peso enorme que hoje deixa a garganta apertada, mesmo quando parecer que tudo já não passa de uma memória, um dia mau. Nunca será apenas isso.
Digam o que disserem, façam o que fizerem, cantem como cantarem. Viaje este corpo ou fique esquecido no sótão escuro, esboce um sorriso ou pareça já não olhar para trás.
É assim.
Quando se perde e não se pode recuperar. Quando se falha e se vê que se é, apenas, um número entre muitos.
E o que fica... é a tristeza.
Nobody Knows, Pink
Até que não me importava de viver com e naquelas cores, num lugar assim deserto e olhado de lado pelos puritanos. De viver aquelas histórias cruzadas; um dia em páginas aos quadradinhos e, de súbito, num grande écran.
Não sejas uma personagem transparente; presa às migalhas que te atiram ao jantar, enquanto te escondes debaixo da mesa.
Perdeu-se.
Como uma tatuagem de Hollywood, gravada pela minha pele naquele tecido macio, onde deixei tombar a cabeça pesada, mas vazia de muito.
Uma, talvez, marca com tempo para ser tocada e momento para desaparecer, devagarinho, sem pressa, ao chegar da madrugada, ao romper do nevoeiro da manhã. Uma quase gravura, sem relevo, sem marca de cinzel. Uma espécie de pintura de mil e uma cores, cada qual contando uma história [a sua história, sem saltar passagens, sem esquecer os recortes dos sorrisos nem os campos de lágrimas] de brilho e saudade. Um singular acorde serpenteante, flutuando na seda e levantando voo, rasando os meus ouvidos e deslizando até à foz do meu pensamento adormecido.
Almost Unreal, Roxette
Estava quente naquela tarde, não te parece? Estava assim como que um Sol vindo de outro Universo, queimando a pele habituada ao tempo ameno. Sim, um Sol que entrava por todas as brechas no cimento e abria caminho por entre a mais densa folhagem... Lembras-te de cerrar os olhos, encostar a cabeça ao muro e dizer que não querias mais o aperto que tinhas no peito? Que não tinhas como afastar de ti o que te matava devagarinho, dia-a-dia e cada dia mais e mais. Lembras-te de deslizar, lentamente, até ao chão marmóreo aquecido e luzidio? Tinhas o perfil da desilusão; o olhar fixava um horizonte distante sem nada ver e seguia, por vezes, exércitos de pequenas formigas apressadas. Talvez só eu recorde. E só eu lembre a expressão gelada que via naquele corpo, ali sentado, com vida mas sem esperança.
Em pé, sem saber se querias ouvir o que te queria dizer e hesitando perante as palavras que sentia cada vez perto de te gritar, ali fiquei. Não dava um passo, não estendia uma mão. Apenas olhava a emoção perdida que já não querias resgatar. Somente olhava o mesmo horizonte vermelho. Esquecia as horas e percebia que as histórias de criança, as fábulas encantadas e todas aquelas personagens de outros tempos, nada mais eram do que isso mesmo. Pedaços de outros momentos, irreais, verdadeiros no primeiro instante e depois esfumados. Percebia pelo simples adivinhar do bater do teu coração. Dorido.
E a lágrima espessa e cristalizada pelos raios vindos lá de cima, a última que te vi derramar, falou mais alto e mais claro do que qualquer ensaio.
Não sei se te lembras dos pormenores que ficaram gravados na pedra da minha memória.
Eu? Lembro-me de ver-te olhar uma última vez a bola de fogo desaparecendo na água, sacudir o pó cravado no sal da lágrima solitária, levantar o corpo recostado e, de olhos perdidos num mundo distante, partir.
Não, não é bairrismo descabido, desmedido, sem razão.
É, talvez, apenas uma música e letras sentidas, que ecoam no peito com um orgulho despretensioso e transformam num sorriso aquela lágrima pequenina.
É, talvez, apenas uma música sem dono e com tantas vozes quantas os corações da minha cidade.
É, talvez, apenas uma letra que, outra e outra vez, deixa novos e velhos sem outras palavras naquela sala de rostos iluminados e, que por um momento, esquece diferenças e disputas.
É, apenas, Porto Sentido.
.
.
Queres brincar também? Olhar bem lá no fundo de não sei bem onde e tentar perceber onde está escondida a inteligência, onde dança a ilusão e se perde a razão num poço de fantasia?
Não sei se é possível.
Nem eu sabia que era assim que se vivia durante o sono.
Gosto das velas. De pegar num fósforo (ou num isqueiro se tais modernices estão por perto, apesar de não ser o mesmo...), ouvir aquele inconfundível deslizar da pólvora no papel áspero e, num momento, ver fazer-se luz! Incendiar cuidadosamente o pavio e deixar arder; lentamente derretendo a cera de todas as cores e feitios. Azul, vermelha, amarela,... E, porque não, sentir, erguendo-se no ar, o calor de um fogo tímido sem pretensão de rivalizar com outras fogueiras (de outros tempos, outros lugares, atiçadas por outras gentes), porquanto sabendo-se capaz de despertar sensações ímpares só por existir; por estar ali, subindo no ar perfumado do quarto, iluminando olhos sem brilho (quiça se recuando até perante outros imponentes), transfigurando-se em afrodisíaco do pensamento (do corpo também, acho eu; sim, porque não?).
Uma chávena fumegando. No ar vazio, ergue-se a espiral imperfeita de pequenas gotículas indistintas, desenhando no ar um calor que embacia os olhos... E aquele aroma quente... chocolate. Diria amargo. Porém, talvez de uma doçura ímpar; difícil de tocar, nem que ao de leve, pelos lábios mais desatentos.
O quadro pintado de uma realidade acontecida sobre uma mesa tosca, num dia sem número, numa manhã, ou tarde ou noite sem hora certa. A tela passada. Sem registo do que viam os olhos aquecidos pelo sabor sem igual. Sem registo da conversa que não aconteceu. Sem memória do acorde que flutuava.
Sem nada, afinal.
E com tudo para poder ser mais do que nada. Muito mais.
.
Enigma, Return To Innocence
E tudo quanto se anseia já não se sabe o que é. Onde está.
Quero apenas sentar-me ao teu lado no sofá, diante da lareira, envolvida por aquela luz tímida. Dizer nada ou balbuciar o cansaço que me invade. E adormecer no teu ombro.
Staind, It's Been Awhile
Porque não me apetece escrever. Nem as mais estúpidas e insignificantes palavras [se as houver...].
E, porque é uma música que nem sequer comento, explico, descrevo. Porque nem nem as mais estúpidas e insignificantes palavras seriam percebidas.
Tenho dito.
Ponto final.
Mas já é quase Novembro.
.
Sensação terrível.
Só queria os lençóis outra vez sobre a cabeça. Abafar a respiração que quase parou, não ver o escuro nem a luz. Só queria acordar de vez, levantar a cabeça, lançar água fresca sobre os olhos. Só queria... não sei o que queria.
Ao acordar em sobressalto, com o coração frio e uma lágrima irreal de sangue que brotou de nascente dissimulada pelo sono e, acredito, pelo nevoeiro da manhã, digo apenas ter sido sensação terrível.
Não querer dormir, mas também evitar o despertar.
Não saber se olhar o relógio, se esquecer que o tempo existe e continua (tic- tac, tic-tac...).
Pegar no telefone e ligar, ou parar e pensar.
Sensação terrível.
Nem todas as palavras, de todas as línguas e dialectos, conseguirão jamais articular-se perceptivelmente e explicar; desenhar os contornos... da sensação terrível. Por isso assim baptizada. Simplesmente.
Não era tristeza, não era saudade, não era dor. Mágoa, dúvida, pesar também não.
Pesadelo?
Fez o coração disparar, bater irregularmente. Testou a resistência das artérias. Pôs no limite a respiração. Gelou cada milímetro de pele. Paralisou os mais pequenos músculos.
O que foi, afinal?
Acabou.
E, olha.
Hoje vejo um pouco de Sol para lá da vidraça.
.
.
Esqueci tudo sobre a mesa. A caneta, o papel, o livro. Passei a mão sobre o pequeno candeeiro e, num passe de mágica, desapareceu a única luz brilhando na negrura daquele recanto. Procurei as costas da cadeira e permiti-me deslizar, de olhos fechados e músculos tensos. Ouvi o silêncio por uns instantes. Tanto tempo ou tão poucos segundos. Não sei.
Lembro-me de sentir a chuva lá fora, o vento vibrando nas árvores em redor, as nuvens em correria desenfreada lá em cima, no escuro.
Lembro-me de carregar este corpo pelo corredor pautado por sombras, jogos de luz ao fim da tarde. Quando as luzes subtis se acendem e aquecem.
Olhei a grande sala de banho. Mármore fria e inanimada olhava-me de frente e deixava-se ser polida pelos meus passos. A grande banheira brilhava sob o luar ousado que entrava pela janela maior; a mais pequena fora mais difícil de convencer. Não qeuria deixar entrar o sol reflectido pela Lua.
Onde estavam?
É verdade, tinha-as acomodado atrás da portinha mais peculiar.
Peguei nelas. De todos os tamanhos, feitios e cores, as velas inundaram-me logo de mil aromas conhecidos. Mas então por que sempre tão novos?
Dispersei-as aqui e além.
Acendi uma a uma.
As sombras nasceram, a luz encarnou formas estranhas, as reentrâncias ganharam protagonismo.
E aqueles sais? Quem terá entrado naquele meu espaço e roubado tais preciosidades?
Precipitei-me... ali estavam eles. Colorindo frasquinhos de contornos esbatidos sob a luz ténue que percorria o espaço.
Deixei então correr a água. Um fumo quente começou a crescer. Elevou-se, tocou as paredes e desapareceu. Puf! Sem deixar rasto.
Mil reflexos despertaram-me os sentidos. Mil imagens poderia ver na água agitada, colorida pela luz e pelo calor. Fugidas, porém; rapidamente evanescendo ao surgir de uma nuvem branca perfumada, laboriosamente cobrindo a superfície.
Parei por momentos. Olhei. Ouvi de novo a chuva, o vento.
Era tempo de mergulhar o pensamento, os músculos tensos.
Sobre uma cadeira de outros tempos, daquelas relíquias que se admiram mas que gosto de ter por perto e longe da vitrine, ficaram as roupas em desalinho.
Sentir cada poro ser tocado pelo calor da água e pela subtileza do perfume.
Parar de respirar e desaparecer sob o manto albo macio. Não sei porquê, nem durante quanto tempo.
Voltar então à superfície e sentir o ar quente.
Filme? Realidade.
Recostei-me.
Acima da água calma, apenas a minha cabeça. Com ela os sentimentos, pensamentos e emoções? Sim, talvez.
Acima da espuma, apenas o [meu] olhar. Uns olhos indistintos na penumbra que perscrutavam as sombras, as chamas tremelicantes, o tecido fino das cortinas tecidas por mãos delicadas, a luz da noite que entretanto caíra e entrava agora suavemente pelas janelas.
Ao longe chegava-me um som. De mansinho, sem incomodar, fundindo-se com a luz e o perfume.
Alguém brincava com acordes de outros tempos. Imaginando um sem número de coisas. Pensando pensamentos que não posso adivinhar.
E quase adormeci.
Assim.
É tão triste. Sinceramente. E falam-me ainda em livros, em letras, em páginas escritas no calor de um instante inspirado ou no gelo de uma amarga memória [musa não menos valiosa, na realidade]. Para quê? Para quem? Para o meu eu? Para mim? Para que esse eu se sinta realizado? Talvez apenas para isso mesmo.
É tão triste ver gente de horizonte estreito, pensamentos limitados, desconhecimento total e completo do tanto que há para apreciar por essas ruas, vielas, casas, jardins, palcos improvisados, telas dispersas.
É tão estranho, no mínimo, admitir que tais mentes não vão além da novela das seis, das coloridas saias da Floribela ou do rímel de meninas construídas nesse evento de superior qualidade com nome de sobremesa de Verão [e que, supresa das surpresas (ou não), até entra em férias e recomeça as aulas quando o mundo real assim dita...].
Talvez por isso é que não admita, aberta e definitivamente, essa possibilidade. Quero crer que há mais além de tudo isso.
E que um livro pode fazer a diferença.
Ou um quadro.
Um lago no meio do nada.
Ou uma noite num recanto sossegado.
"Acordaste outra vez com aquela vontade esquisita? Não, não me digas que sim!!! Ou diz, diz que sim!!! Vamos lá então! Já começava a sentir falta desse ímpeto!!! Agora é que vai ser!!! O quê? Não é só isso? Oh!! Diz lá... Não me deixes em pulgas deste lado da linha!!! Quê?!?! Não pode! Não acredito!! Vá lá..."
Também te escondes atrás do telefone?
Ou não será uma fuga?
Uma voz que há poucos instantes chamou por mim. Dizendo baixinho "vá lá, lembras-te demasiado bem do arrepio de me sentires a escassos metros. Sente-me de novo. Recorda o som que te fez e faz sonhar. Recorda as letras que te falam de dentro para fora, diluindo a tristeza, perpetuando a dor quando não há como apagá-la, aliviando o peso de uma lágrima fugidia. Vá lá. Ouve-me. Sente-me. Aqui. Agora. Como se fosse a primeira vez. Ou como se, de novo, estivesses recostada e envolta em música naquela sala repleta de emoções contraditórias e gente tão igual na sua diferença inegável."
Este tempo reportou-me a outro tempo. Um tempo também cinzento e por vezes chuvoso, preenchendo o tempo de dias que hoje relembrei ao reescutar músicas há tanto longe da recordação. Um tempo tipicamente marcado pela nebulina, pelo vento soprando sem pedir licença, pelo mar revolto estivesse o corpo a viver Verão ou Inverno.
Um tempo de vivências diferentes, onde os sabores se misturavam e os odores da estrada pareciam tão diferentes dos que sentiamos em casa. Um tempo onde crescemos a um ritmo próprio, ditado por nós e pela exigência de ter que ser alguém e não baixar os olhos.
Tempo de fins de tarde, findas as aulas, o estudo, ou um qualquer passeio na cidade, passados sobre a relva cuidada da imensa propriedade do colégio. Relva verde, ora fria, ora reflectindo os últimos raios de um Sol sempre tímido.
Conversando ou dizendo nada; olhando os corvos em voo sobre a costa ou vendo nada mais do que o céu sobranceiro e imenso... imaginando que, longe, alguém amigo estaria sob o mesmo manto azul.
Tempo de sorrisos e lágrimas noutra língua. Tempo imortalizado por piadas e dissertações pseudo-importantes espantando a plateia de projectos de gente envergando chocolates [como podia ser pouco apelativa a sobremesa às vezes...].
Tempo vivido numa ilha... dormindo, despertando, respirando, estudando, sentindo, caminhando com coração luso sobre lajes britânicas.
Tempo, como todos os tempos, que um som faz re-sentir. Tempo, como todos os tempos, que reaviva sorrisos e recorda mágoas pelo ressurgir de um acorde. É este o poder desta música [um dos...].
Where are you? I've been sitting on the moon...
Pieces of a great song...
[SItting on The Moon, A Posteriori, Enigma]
Purple Rain
Azar. Não é para agradar. Nunca foi. Nada do que digo, faço ou penso.
E hoje, nesta manhã de Sol com cheiro e sabor a Outono, penso. Penso e penso e penso e chego a nenhuma conclusão. Sem sono, sem cansaço, sem distracção física, não me concentro. Tão decidida, tão empenhada e não me concentro. Uma hora, duas, três. Tudo na mesma. Insisto, não desisto. "Há dias assim." Mas não pode haver. Não pode. Porque o tempo passa. A tensão aumenta estupidamente e sem fundamento, arrisco dizer que virei a concluir.
Quero apenas o que sempre quis.
Ser eu. Com tudo quanto isso implica.
E como custa às vezes não ser de outra maneira. Mesmo que o não queira.
Inesquecível Saara. Fotografias de outros dias que lutam para recolocar o corpo noutro lugar.
Porque, vídeo e música, falam baixinho ao meu ouvido
Aqui,
agora,
ao (re)escrever,
ao respirar.
Coldfinger - The Beauty of You
Metallica - The Unforgiven